As potencialidades de Marina Silva

Jaldes Meneses

I
Em simulações de abril, Marina atingiu a marca de 27% (pesquisa Datafolha). Evidentemente, em novas consultas, o novo índice será menor. No entanto, de saída, acredito na transferência quase absoluta dos votos de Eduardo Campos - diante do impacto da morto, inexistem possibilidades racionais de os eleitores órfãos de Eduardo migrarem para os lados de Dilma ou Aécio -, mais o recall de quem disputou uma eleição presidencial e a comoção natural da tragédia de morte acompanhada por todos nós, potencializam o crescimento imediato das intenções de votos da ex-seringueira do Acre. Quem ousa duvidar?
II
Nem Dilma, nem Aécio nem Eduardo Campos conseguiram capturar a potência dos acontecimentos de junho do ano passado, especialmente a simpatia da nova juventude precarizada e a da classe média decadente, a amalgama heterogênea de setores que classe que se cruzaram de raspão nas ruas. Será que Marina Silva conseguirá capturar uma parcela do eleitorado urbano que participou daquelas manifestações, que ainda estão indiferentes ao processo eleitoral e arredios à política institucional? Com certeza, os partidos à esquerda do PT, fragmentados em microcandidaturas ideológicas passam longe da capacidade, até estrutural, de cativar a este eleitor.

De tudo isso, resta detectar que Marina pode vir a ser um novo escoadouro dos votos de milhões de brasileiro que estão pensando seriamente em anular o voto nestas eleições. O eleitor típico que participou das manifestações do ano passado está longe de ser fidelizado pelas organizações que estiveram promovendo os atos de ruas, mesmo assim, existe em alguns desses grupos – dou o exemplo dos autonomistas ligados às ideias de Toni Negri – uma discreta simpatia pela candidatura de Marina. Curiosa personalidade, Marina Silva: sistêmica em economia – ela já vem amolecendo o seu coração de avatar ao agronegócio, e vice-versa, além de contar entre os seus o luxuoso apoio de André Lara Resende (Plano Real), Milu Vilella (Itaú) e Guilherme Leal (Natura); antissitêmica em política – a única das candidaturas no páreo a detonar o presidencialismo de coalizão.


Se quiserem saber qual o significado de ser antissistêmico em política nas eleições de 2014, dêem uma espiada no programa de Televisão de Eduardo Campos que seria exibido na abertura do horário eleitoral gratuito, terça-feira próxima. Virou uma peça de propaganda futuro do pretérito repleta de elementos de reflexão:


http://www.youtube.com/watch?v=sIXUHypjV50

(Artigo originalmente postado no portal WSCOM no dia 16/08/2014, portanto antes da pesquisa Datafolha publicada no dia 18/08/2014, no qual Marina Silva obteve 21%, empatada tecnicamente em primeiro turno com Aécio Neves, 20%).

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