AS “DENÚNCIAS” DA VEJA E O “TERCEIRO TURNO”


Jaldes Meneses
Acabei de ler somente hoje, sábado, a matéria da revista Veja com as acusações do doleiro Alberto Youssef a Lula e Dilma. Comprei logo cedo e era o último exemplar disponível na Banca. Perguntaram-me ontem num programa de rádio se a denúncia poderia mudar o vento de favoritismo à Dilma nesta resta final de campanha. Disse ontem e repito: não creio que essas denúncias mudem intenção de voto, mas elas deveriam  ser vistas como uma espécie de “plataforma casada” com o debate da Rede Globo de ontem, por isso a revista saiu com um dia de antecedência e a capa já circulada na internet desde quinta-feira.
Quem assistiu o debate de ontem já sabe muito bem que, embora Aécio tenha feito a pergunta, não me parece que ela tenha provocado impacto maior, se perdeu na miríade de temas do debate, uma espécie de jogo de cabra cega no qual a conhecida deficiência de fluência verbal de Dilma não se saiu pior que a evidência dos sintomas nervosos de Aécio. Portanto, a “bala de prata” consorciada Capa-deRevista-Debate-Rede-Globo foi um tiro que saiu pela culatra, do ponto de vista da plataforma tucana.
Um dado interessante extraído da leitura da mais recente pesquisa DataFolha é que nos últimos dias Dilma cresceu em todas as regiões e em todas as classes sociais, mesmo na classe média alta e, principalmente, equilibrou a parada nos extratos sociais entre 2 e 5 salários mínimos. Neste sentido, as “denúncias” de Youssef poderiam produzir algum impacto em eleitores de classe média alta (mais de 10 salários mínimos de rendimentos) que votaram em Marina no primeiro turno, fizeram um movimento pró-Aécio, mas acabaram se definindo por Dilma. Em João Pessoa, por exemplo, este tipo eleitor mora em Bairros como Manaíra ou Bairros dos Estados.

Só podemos verificar taxativamente se houve de fato um deslocamento depois de apuradas as urnas, após um fino exame de seção em seção eleitoral a quem tiver saco de pesquisar. No entanto, não creio que ocorra este hipotético deslocamento, por um simples motivo: este tipo de eleitor não se trata de um militante tucano envenenado ideologicamente (este é Aécio até morrer), mas precisamente o contrário, uma pessoa que vai fazer uma leitura mais racional e crítica do material apresentado. Vai cotejar a matéria da Veja com outras informações a respeito. Por isso, o programa eleitoral de ontem do PT acertou em, logo de cara, por na tela uma Dilma indignada, apresentando a contranarrativa da campanha petista.
Li algumas pessoas, ativistas de campanha de Dilma, teclando nas redes sociais que, de alguma maneira, em se falando da Veja, se estaria fazendo a propagada da revista – tanto que eu comprei o último exemplar em banca! Bobagem, a revista repercutiria, mesmo sem auxílio indireto da ativa militância petista nas redes sociais e, pior, caso fizesse ouvido de mercador e calasse, a impressão que ficaria é que a denúncia havia encostado o PT nas cordas.
Deixemos de lado o terreno frívolo da análise do discurso, e passemos ao terreno verdadeiro das relações de forças na política. Evidentemente, a deduzir pelos pronunciados de vários dirigentes do PSDB (Alberto Goldman) e jornalistas ligados a este partido (quase todos da “grande imprensa”), uma vez perdendo nas urnas, eles vão encarar o risco golpista de partir para um “terceiro turno”, puxando o fio do novelo exatamente das delações premiadas de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef. Trata-se de um caminho absolutamente inconsequente, de alguma maneira concluindo a evolução conservadora do PSDB como uma UDN do século XXI. Triste, a história dos liberais brasileiros da UDN, que começaram como movimento de oposição ao Estado Novo varguista, e terminaram como vivandeiras de quartéis, até, enfim, de derrota em derrota eleitoral, chegar ao poder através do rumor de sabres e botas da ditadura de 1964.      

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