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Mostrando postagens de março, 2015

As três almas das ruas

Jaldes Meneses email: jaldesm@uol.com.br    Previno o leitor que o meu artigo desta semana estará repleto de datas de dias, meses e anos, inevitável quando o objetivo do texto trata-se de elucidar, ao mesmo tempo em que cria marcos de periodização histórica. Nunca fui um desses tecnocratas mágicos, com o dom de iludir através números e gráficos tirados da cartola, por isso espere o leitor uma leitura que ambiciona em contraponto à assepsia de uma pseudo neutralidade axiológica, a leveza de um curto passeio histórico e político de ambição totalizante. Quem nos conduzirá neste passeio será uma orgulhosa Coruja. Explico-me arguindo Hegel, além do filósofo da dialética idealista, ou exatamente por isso, um imagista genial. Segundo o famoso filósofo moderno, o trabalho da razão na história se aparenta ao mito grego da Coruja de Minerva, uma ave de prontidão noturna. Semelhante à Coruja, a razão também trabalha à noite varando a madrugada, examinando o trabalho diurno dos home

A crise de Dilma é a crise do Lulismo

Jaldes Meneses email: jaldesm@uol.com.br No auge da crise do mensalão, em 2005, fiz uma entrevista com Chico de Oliveira (vice-presidente da SUDENE na histórica gestão de Celso Furtado e um dos mais importantes intelectuais brasileiros vivos; para mim, uma máquina de pensamento criativo e antidogmático), na qual, em determinado trecho, ele fazia questão de diferenciar conceitualmente PT (ou petismo) de uma palavra nova que surgia no vocabulário político - o lulismo. Embora seja fenômenos contíguos, especialmente pelo motivo evidente de o lulismo ter sido parido no ventre petismo, não teria surgido o lulismo como fenômeno político novo sem a experiência de governo do Estado Brasileiro inaugurada com a primeira vitória eleitoral do PT, derrotando o PSDB na campanha de 2002. Para haver lulismo, precisa haver Estado. De alguma maneira, o lulismo se plasmou reciclando materiais adormecidos, inertes, mas não mortos, da formação social brasileira, adaptando experiências da cham

O galinheiro às raposa

Jaldes Meneses   Haverá em curto prazo - Keynes já dizia que em longo prazo estaremos todos mortos - a possibilidade de um golpe de Estado no Brasil? A cada momento de instabilidade e crise – e exemplo da crise do segundo governo Dilma – a pergunta reaparece, como a relembrar de que onde há fumaça há fogo .  A pergunta tem cabimento por que a história republicana brasileira no século XX foi pródiga em golpes. A chamada “revolução” de 1930, por exemplo, se analisada a frio, foi uma conspiração vitoriosa, derrubando um governo eleito e outro prestes a tomar posse, embora carcomido, reprodutor de todas as mazelas do sistema político oligárquico da República Velha. Depois, os militares passaram o restante do século conspirando, numa sequência formidável de golpes no qual os principais foram o do Estado Novo (1937), até o ainda não cicatrizado 1964. A influência política dos militares na vida brasileira só se reduziu após o processo político que se abriu depois da constituiçã