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Mostrando postagens de julho, 2015

A imaginação econômica

Jaldes Meneses Não sou especialista em economia. Por vocação, muito jovem, preferi a leitura dos clássicos de política aos de economia. Mesmo em Marx, que comecei a ler no secundário, me senti mais à vontade na leitura e no estudo dos textos de filosofia, política e história. Deixem-me cometer, por assim dizer, uma nota confessional. Meu primeiro livro marxista, até hoje lembro, não foi de Marx, mas de Engels, "A origem da família da propriedade privada e do Estado”, na memorável tradução de Leandro Konder, editado pela Civilização Brasileira de Ênio Silveira. Tenho o exemplar guardado, na estante e no coração, até hoje. Anotei besteiras desentendidas nas margens do livro, na caligrafia incerta de adolescente. Em Jaguaribe, nos tempos da ditadura, esses estranhamentos eram possíveis e até prováveis, embalados ao som de rock progressivo e dos tropicalistas. Contudo, logo percebi que no mundo dos homens - uma das grandes percepções de Marx - é-se impossível separar economia

Poesia e política: Benjamin e Baudelaire

Jaldes Meneses email: jaldesm@uol.com.br Na coluna da semana passada, escrevi sobre Vinicius de Morais e a política aproveitando o ensejo dos 35 anos da morte do “poetinha”, recordada no dia 9 de junho. Remexendo livros, dou de cara com a data de nascimento de Walter Benjamin no dia 15 desse mês (1892). Deixo o assunto da chanchada do “golpe” boçal e judiciário dos tucanos para outra ocasião. O meu assunto de hoje é mais nobre, trata-se de mais uma tentativa incidental e pessoal de abordar a relação entre poesia e política através de uma rápida exegese de dois autores geniais de gerações diferentes e formações culturais distintas que, obviamente, nunca se conheceram pessoalmente, mas que acabaram por se entranhar até virar duas almas gêmeas - Walter Benjamin e Charles Baudelaire. Comecemos por Baudelaire para chegar a Benjamin. Teria muito a dizer sobre a poesia de Charles Baudelaire, o grande poeta francês cantor da modernidade, e pode-se afirmar que há múltiplos baudelai

A política de Vinícius

    Exatamente no dia 09 de julho, há 35 anos, morria o grande poeta Vinicius de Moraes. Abaixo, um artigo meu sobre o poeta: Jaldes Meneses Entre as muitas histórias que se pode contar de Vinicius de Moraes (1913-1980) – um dos maiores poetas modernistas brasileiros do século XX, cujo centenário de nascimento o Brasil comemora no dia 19 de outubro –, começo com uma que reúne em único ato política e poesia.  O folclore do poeta é vastíssimo, de modo que procurarei me abster de temas como a bebida, os amores e o modo de viver da zona sul carioca. Muitas vezes, o folclore lança brumas, obscurece a recepção da obra daquele que é sem favor um dos sete principais poetas modernos brasileiros do século XX, quase ou no mesmo nível de Drummond, Cabral, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Jorge de Lima e Murilo Mendes. Ao que parece, o poeta recebeu a notícia de cassação do Itamaraty, em visita à casa de sua mãe no Brasil, na esteira da edição do AI-5. Em seguida, em 1969, cer