Do jeito que está não fica mais

Do jeito que está não fica mais

Jaldes Meneses

O Brasil vive um momento de transe histórico. Uma terra em transe pede propostas de emergência. Já se passaram sete meses do segundo governo da presidente Dilma Rousseff e o programa que foi vitorioso nas urnas e nas ruas contra Aécio Neves e o PSDB, principalmente na economia, foi arquivado. O que era otimismo virou decepção e como resultado os sinais da correlação de forças se inverteram.

Do jeito que está não fica mais. Os acontecimentos da semana, especialmente a entrevista de quarta-feira (05/08) do Vice-Presidente Michel Temer (dizendo que o Brasil é maior que partidos e governos e sugerindo e a audiência do Ministro Mercadante (pedindo à oposição compartilhamento de propostas) expuseram ao país um governo em situação absolutamente dramática.

O governo Dilma ou muda ou vai perecer em mais rápido tempo que se possa imaginar. Diante disso, o que o governo deveria fazer? Esperar o navio naufragar?  O parto de manufaturar alternativas é sofrido, mas para se agir em política é preciso, para começar, encarar a dimensão do desafio. Examinando a crise política, só vejo em quatro os destinos de futuro imediato do governo, e nenhum deles passa pela manutenção do atual status quo da relação de forças.

As possibilidades de futuro político imediato do governo são as seguintes: 1) Renúncia da presidente; 2) Impeacheament; 3) Novo ministério de um acordo representativo de rompimento da presidente com o projeto que a elegeu; 4) Novo ministério e programa de emergência com personalidades da sociedade civil, da universidade, dos meios jurídicos, dos movimentos sociais, dos partidos e dos governadores.

Diante de tudo isso, o que fazer? São ainda possíveis duas ações políticas combinadas, uma autêntica rota de navegação em mar revolto:

1. Reorientar a política econômica.
A economia não está desvinculada da política. O governo precisa mudar na política econômica para sobreviver, criando as condições objetivas para reorganizar a nossa base social, que terá que se mobilizar para fazer o enfrentamento diante dos interesses do capital financeiro e das empresas multinacionais. O crescimento do desemprego, a queda da renda dos trabalhadores e o corte de programas sociais, com certeza, darão uma base de massas para as forças golpistas que articulam o impeachment da presidenta Dilma. Além disso, deixarão neutralizadas as centrais sindicais, os movimentos populares e entidades estudantis que apoiam o nosso projeto, mas terão dificuldade redobradas para sair às ruas e defender um governo que implementa medidas contra os seus interesses. Escrevendo claramente: Dilma dificilmente concluirá seu mandato se essa política econômica colocar o país num longo período de recessão, que poderá se estender até 2017. Não há como sobrevivermos neste contexto. Neste sentido, o  ajuste fiscal malogrado em curso não é um movimento tático do Ministro Levy, nem muito menos das forças políticas e sócias que ele representa. É estratégico. 

2. Apresentar um novo governo à Nação e reconstruir a base de apoio no Congresso.
O sistema “Presidencialismo de Coalizão” vigente já se exauriu e, pior ainda, tenta sobreviver através do golpismo. Tendo em vista a gravidade da situação, Dilma precisa buscar forças na sociedade e apresentar um novo governo à Nação para enfrentar as várias crises. Este novo governo teria como epicentro a composição de um novo ministério de ampla respeitabilidade social e política, indo buscar personalidades representativas da sociedade civil, dos intelectuais, dos clérigos, dos movimentos sociais, dos trabalhadores e dos empresários. O novo ministério precisa, logo que empossado, de um programa claro e decidido de combate à crise. Ao mesmo tempo e no mesmo compasso, precisamos de uma base partidária coesa, menos dispersa, comprometido com o novo programa e decidida no apoio ao governo. Nos duros embates que se avizinha no parlamento, o objetivo central é aglutinar uma base de tipo defensivo, em torno - para estimar uma cifra - de 200 deputados, todos convictos em impedir, em nome da democracia e contra o golpismo, a admissibilidade de um processo de impeachment na Câmara Federal, como também as tentativas de aprovação de Projetos de Emendas Constitucionais que retirem direitos. 

Nada disso é fácil de fazer. Mas é tudo que precisa ser feito.


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