O “espírito” de 1964
Jaldes Reis de Meneses Toda história da cultura é também uma história da barbárie (Walter Benjamin) Como abordar o golpe militar de 31 de março (ou primeiro de abril) de 1964, 47 anos passados? Em sua bela biografia de Napoleão, publicada logo após o fim da Restauração francesa (a sequência de 15 anos de último retorno da dinastia dos Bourbons, na qual ficou evidente a quimera do projeto conservador de retorno do antigo regime), Stendhal faz uma observação decisiva a quem pretenda escrever a história de seu próprio tempo: o escriba vai se meter em exumar os companheiros de geração, as promessas que se dissiparam e os fracassos que ficaram feito cicatrizes, mas principalmente as viragens. O romancista anota que os homens que foram no passado os antigos radicais jacobinos são os mesmos moderados que conduziam naqueles dias os negócios de Estado. Arguto, Stendhal percebe um remoto sentimento de cumplicidade, de ele mesmo ele mesmo participa. No sentido stendhalniano, a geração que resis