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Mostrando postagens de maio, 2013

Amor e capital

                                                                                                                     Jaldes Meneses             Passei 15 dias dedicados à leitura das cerradas 957 páginas de “Amor e capital”, biografia escrita por Mary Gabriel (ex-editora da agência de notícias Reuters) recém lançada no Brasil, que abandonou o bom emprego para passar oito anos na incerta ocupação de ler e pesquisar em livros e arquivos empoeirados a saga da família Karl e Jenny Marx. Não se trata de assunto inédito. Vários escritores, sem mencionar as hagiografias da antiga Editorial Progresso de Moscou, já se ocuparam dos dramas dos Marx. Li várias biografias de Jenny e Marx. De memória, recordo o belo livro de Edmund Wilson, “Rumo à estação Finlândia”. Embora não seja precisamente uma biografia de Marx, “mas de homens que fizeram ou escreveram a história” (de Michelet a Lênin), o livro de 1940, continha, em época de documentação guardada a sete chaves nos porões russos, muitos

Gramsci e o comunismo

Amanhã, terça-feira, 21 de maio, às 15 horas, farei uma palestra, junto com o professor Rodrigo Freira (DCS-UFPB), no auditório 412 do CCHLA – intitulada "Gramsci, o comunismo e o Estado". Sintam-se convidados. Diferentemente dos fundadores do marxismo, Gramsci propõe como comunismo uma sociedade – um tipo de autogoverno regulado e mediado – na qual desapareçam as diferenças entre “governados” e “governantes”, mas jamais a ausência da “mediação-governo” entre os homens -, a anarquia. O comunismo em Marx é denso em conteúdo e frágil em forma. Se no comunismo não haverá mais contrato social stricto sensu, certamente haverá instituições associativas coletivas e permanentes; relações ad hominem, é certo, desde que mediadas institucionalmente. Os fundadores do marxismo escreveram sobre a passagem no futuro do “governo dos homens” para o “governo das coisas”. Nada mais distante de Gramsci que as ideias utópicas de extinção do Estado, no sentido de desaparecimento do governo

Lincoln e Marx

Jaldes Meneses Um dia desses, em entrevista sobre política a um programa local de televisão, um expectador, através do twitter, me perguntou, tentando justificar o mensalão, o que achava de o presidente Lincoln também ter “comprado” votos nos Estados Unidos para conseguir a abolição da escravatura. Respondi elipticamente que mãos sujas não produzem política limpa. Mas a questão voltou algumas vezes à minha cabeça, por assim dizer não me abandonava. Evidentemente, o expectador havia assistido, com eu, o filme “Lincoln” de Steven Spielberg, baseado em um pequeno trecho do livro “Team of Rivals: The Genius of Abraham Lincoln”, de Doris Kearns Goodwin, que recolhe um episódio fortuito de uma história muito mais complexa. Para ele, a verdade da guerra de secessão americana – ajudado pela interpretação verossimilhante de Daniel Day-Lewis –, em vez de resultado de pesquisa histórica, passou a ser a ficção de Spielberg, recheada de recados a Obama de como suportar estoicamente, em nome d

Edmundo Fernandes Dias

  Jaldes Reis de Meneses [1] De espírito profundamente consternado recebo a notícia pela internet de falecimento do professor Edmundo Fernandes Dias, aos que não conhecem, da UNICAMP e militante histórico do ANDES, o sindicato nacional dos professores universitários. Nele, para mim, não havia duplicidade entre frente e verso, cara e coroa, intelectual e militante. Ele era inteiriço. Tratava-se de uma dessas pessoas raras que fizeram de fato uma opção e a ela se entregou. Edmundo fez a opção pelos trabalhadores e sua cultura, por isso cultivou sem tréguas um ódio visceral ao capital. Definitivamente, não foi um homem dos atalhos e ambigüidades tão comuns ao mundo acadêmico. Tinha um verdadeiro amor ao conhecimento, não lhe animava simplesmente fazer carreira, pontuar currículos, mas por a imaginação e o trabalho intelectual a serviço de uma causa emancipatória. Se era intransigente, nunca foi um sectário. Na maioria das vezes, cruzei com ele