Edmundo Fernandes Dias
Jaldes
Reis de Meneses[1]
De
espírito profundamente consternado recebo a notícia pela internet de falecimento
do professor Edmundo Fernandes Dias, aos que não conhecem, da UNICAMP e
militante histórico do ANDES, o sindicato nacional dos professores
universitários. Nele, para mim, não havia duplicidade entre frente e verso, cara
e coroa, intelectual e militante. Ele era inteiriço. Tratava-se de uma dessas
pessoas raras que fizeram de fato uma opção e a ela se entregou. Edmundo fez a
opção pelos trabalhadores e sua cultura, por isso cultivou sem tréguas um ódio
visceral ao capital. Definitivamente, não foi um homem dos atalhos e
ambigüidades tão comuns ao mundo acadêmico. Tinha um verdadeiro amor ao
conhecimento, não lhe animava simplesmente fazer carreira, pontuar currículos,
mas por a imaginação e o trabalho intelectual a serviço de uma causa
emancipatória.
Se era intransigente, nunca foi um
sectário. Na maioria das vezes, cruzei com ele em assembléias do Andes com
visões estratégicas distintas. Logo que a poeira assentava, no entanto, podíamos
sentar serenamente em uma mesa e esmiuçar as questões mais profundas das
estratégias, que jamais serão resolvidas nos cinco minutos retóricos de uma
assembléia. São experiências políticas de vinte anos (como o tempo passa
rápido!), desde que ingressei na Universidade como docente até hoje. Elas
nunca vão me abandonar.
Não se pode traçar um perfil, mesmo
sucinto, de Edmundo sem falar em Gramsci, autor marxista que ele cultuava e sobre ele
deixou uma reflexão particular. Mais do que trazer à luz um “outro Gramsci” ele
nos ofereceu mais que isso, o “seu” Gramsci, original, embora filológica e
historicamente rigoroso. Não é hora de fazer exegeses, concordar ou discordar,
mas de fazer justiça ao velho guerreiro que não nos abandonou simplesmente por
que chegou o momento da morte individual e intransferível, derradeiro ato seu,
parafraseando os belos versos do poeta Gilberto Gil. Nunca se abandona quando se
guarda.
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