Dialética da Dependência
Jaldes
Meneses
A “Dialética da dependência”, ensaio
escrito e publicado no exílio mexicano por Rui Mauro Marini, distante de Minas
Gerais, onde nasceu, e do Rio de Janeiro, onde adquiriu a sua formação
intelectual com Guerreiro Ramos (sociólogo nacionalista do ISEB, cassado em
1964) e nos quadros da POLOP (organização de esquerda criada em 1962, crítica ao
programa do PCB), completa 40 anos. Posso estar falando aramaico ao leitor de
jornal, mas no mundo inteiro o acontecimento vem sendo objeto de vários
seminários, com especialistas se debruçando avidamente no legado de Rui Mauro,
especialmente as teses do subimperialismo brasileiro na América Latina, que
retornaram aos esquemas interpretativos das ciências sociais buscando dar conta
a expansão do capital privado e estatal brasileiro nos países
vizinhos.
De alguma maneira, Rui Mauro previu
corretamente as tendências expansivas do capitalismo brasileiro rumo a seus
vizinhos, num tempo em que apenas os investimentos em Itaipu denunciavam
claramente esta tendência. Para se ter uma ideia, a Petrobrás tem hoje 15% do
PIB da Bolívia. Do ponto da economia brasileira, ao formular através da
categoria de superexploração da força de trabalho um dos suportes decisivos do
“milagre econômico” da ditadura, o autor faz-nos pensar a recente afluência
social do período Lula, antes e hoje, processos que conciliam formalização com
ritmos semiescravistas de trabalho. Há um senso comum idiota que só percebe os
problemas de superexploração do trabalho em períodos de crise, quando ao
contrário, muitas vezes os períodos de afluências são exatamente os que as taxas
de mais-valia explodem.
Reconheço a contribuição de Rui
Mauro. No entanto, os esquemas de dependência deste autor, exatamente os
suportes da teoria do subimperialismo, eram demasiado rígidos, como se essas
relações compusessem um determinismo férreo. Quem detectou esses problemas no pensamento de
Rui Mauro foram Fernando Henrique e José Serra, que responderam em seguida à
publicação mexicana.
Fernando
Henrique e Serra agiram desonestamente, dificultando a publicação do livro
clássico no Brasil. O livro e a resposta de Rui Mauro a Serra e FHC só foram
aqui publicados em 2000, quando FHC era presidente da república. Exilado no
México, acusado de constituir uma base teórica dos grupos guerrilheiros
latino-americanos, Rui Mauro era um autor maldito no Brasil, ao passo que,
embora na oposição ao regime, FHC e Serra já despontavam como queridinhos da
elite paulista.
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