2015: a crise está chegando
Jaldes Meneses
Qualquer um dos três candidatos que porventura vença as eleições,
Dilma, Marina ou Aécio, por ordem de favoritismo, a partir de 2015, o tipo de
governabilidade conquistada à duras penas nas eras de FHC e Lula (o governo
Dilma, a Gal. Dutra de saias, não passa de um prolongamento da Era Lula), à
base das grandes coalizões de partidos fisiológicos, definitivamente, se
exauriu.
Lado a lado ao que a imprensa tem chamado de “recessão técnica”
(que a economista petista Maria da Conceição Tavares denominou de “recessão
moderada” em entrevista ao jornal VALOR ECONOMICO de 29/08), o problema de
contenção da inflação à base de preços administrados e da lucratividade das
estatais, prenuncia-se um horizonte carregado, mais grave ainda, de crise
política de governabilidade – qualquer um que seja o candidato vencedor.
Guardadas as devidas proporções, as atuais eleições brasileiras
relembram as de 1960 e 1989, nem tanto por motivo de dois outsiders (Jânio e
Collor) terem saídos vencedores – esta é a epiderme do processo –, mas,
principalmente, por significarem a porta de entrada dos temporais inevitáveis,
passado o período de bonança de dois ciclos de desenvolvimento da economia
brasileira (JK, 1958, e Lula, 2010). No caso das eleições de 1989
(Collor) o clima de fim de ciclo era ainda mais manifesto: mais que um ciclo econômico,
o que havia quebrado desde 1982 era, epiderme, a ditadura , a
ditadura – cujo entulho autoritário foi parcialmente rompido pela Constituição
de 1988 (mas essa é outra conversa) –, e, em profundidade,
o próprio Estado Desenvolvimentista erguido a duras penas a partir de 1930.
Partido experimentado, é claro que a direção política do PT
sabe muito bem das dificuldades de 2015. Por isso, de maneira discreta, o
discurso de Dilma na televisão começou a verbalizar a tese de convocação de um
plebiscito sobre a reforma política, proposta que, por mais branda que sejam
seus termos, de alguma maneira, significa a intenção de proximamente realizar
algum tipo de ruptura com o sistema de amplas alianças fisiológicas – em suma,
o “presidencialismo de coalizão”.
Ninguém crítico ao nosso sistema político, à primeira
visada, pode descartar a ideia de que a ruptura com o sistema político
carcomido, amalgama funcional de atraso e modernização conservadora que tão bem
caracteriza o desenvolvimento capitalista da sociedade brasileira, possa passar
pela saída de convocação de formas plebiscitárias. O problema de fundo, no
entanto, é que a mastodôntica coligação de partidos que sustenta o projeto de reeleição
de Dilma (que lhe presenteia com aquele imenso latifúndio de tempo de TV)
representa exatamente aquilo que se pretende destruir.
Dorme-se em casa com o inimigo. Uma vez Dilma empossada, no
dia seguinte, a ampla coligação de eleição vira correlação de forças intracorpus o aparelho de governo. Ou seja, conforme a tradição da história
política brasileira, as classes, os segmentos de classe e os partidos, cada um
acantonado em um naco do Estado, vão tratar de reproduzir a mesmíssima política
centrífuga.
No ápice das mobilizações dos acontecimentos de junho do ano
passado, Dilma foi à televisão e prometeu um pacote de reformas contraditório
em seus objetivos – manter o tripé da estabilidade fiscal (superávit primário,
câmbio flutuante e metas de inflação), contudo, pelo lado dos investimentos
sociais, aumentar os gastos públicos em saúde, educação e mobilidade urbana. A única
maneira de conciliar a manutenção do tripé da estabilidade fiscal com o aumento
dos investimentos sociais é o crescimento da economia – mas os próprios
economistas do PT sabem muito bem que estamos entrando num período de “recessão
moderada”.
Havia uma proposta
política no pacote esquizofrênico: a convocação de um plebiscito de convocação dos
eleitores para se pronunciarem pela reforma política. No mesmo dia, a proposta
foi bombardeada, dentro do governo, pelo PMDB, e fora, pelo PSDB, apoiados por
quase todos os partidos – exceto PCdoB e PDT.
Assistimos ontem, na televisão, o vice-presidente Michel
Temer anunciando a adesão do PMDB a um pacote de reformas. Teria o PMDB mudando
de posição contrária a respeito da convocação do plebiscito? Obviamente que não.
Mas prefere-se manter a zona de sombras. Se houvesse debate político realmente
consistente no Brasil, seria a primeira pauta dos jornais no dia de hoje...
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