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Gitana dos 50 Anos

Jaldes Reis de Meneses O primeiro amor noves fora são rosas Adolescentes jogadas em definitivo ao chão. Sequer as pisamos, somente as amortecemos Mas delas para sempre ficaremos dementes. Do grande amor esquecemos, em vez disso O primeiro amor retorna no momento da memória, Gravado a ferro e fogo, marca de boi, persecutória Em uma página perdida de todas as biografias. O grande amor disse adeus, o primeiro desapareceu, Um tão perto, outro tão longe, de um sofremos Pelo outro fazemos um discreto gesto secreto. O que nunca houve para sempre será O que um dia teve nunca mais haverá O primeiro dia nasceu, o outro quem saberá?

João Cabral de Melo Neto:

Antes faço o plano do livro, decido o número de poemas, o tamanho, os temas. Crio a forma. Depois, encho. A frase de João Cabral, acima, foi colhida nos parágrafos derradeiros da inteligente apresentação feita por Eucanãa Ferraz (Belo, Bula) à nova edição de "A educação pela pedra e outros poemas" (Editora Alfaguara, 2008). Espero retornar à poesia de João Cabral nos próximos dias, através de um curto ensaio, por enquanto apenas escrevo que a forma de sua poesia, mais além de um evidente corpo a corpo com a linguagem na tentativa de parecer seco em seu antilirismo (ele adorava essa expressão, como também adoro, aliás), medrou na forma tortuosa de uma doação paulatina. O "homem seco" foi se doando e sendo tostado aos poucos, ao longo dos anos de labor poético consciente e racional - O engenheiro, O cão sem plumas (para mim, desde a adolescência, um dos principais poemas da língua portuguesa), A educação pela pedra, etc etc - pelo fogo-fátuo (de Fernando Pessoa), pelo...

Linguagem de Adão: Proust e Benjamin

Ainda um post sobre a linguagem de Adão. Teria esta linguagem continuidade na música? Walter Benjamin foi um grande leitor e crítico de Marcel Proust. No trecho que reproduzo a seguir, o romancista francês narra a respeito da hipótese de uma linguagem anterior a verbal, para ele a linguagem da música. Leiam: "Eu me perguntava se a música não era por acaso o exemplo único do que poderia ter sido – se não tivesse havido a invenção da linguagem, a formação das palavras, a análise das idéias – a comunicação entre as almas. Ela é como uma possibilidade que não teve prosseguimento, a humanidade tendo tomado outras vias, a da linguagem falada e escrita". In: PROUST, Marcel. Em busca do tempo perdido (A Prisioneira, vol 04), pp 246. (Jaldes Reis de Meneses)

Linguagem de Adão: Drummond, Waly Salomão, Montaigne

A “linguagem adâmica” (Walter, Benjamin, Sur lê langage a general et sur le langage humain, Paris, Gallimard, 2000), sem dúvida uma manifestação primordial e atávica da mimesis, constitui um dos dispositivos permanentes, ontem, hoje e sempre, da construção poética. É por meio dela que se comunicam espontaneamente os animais na natureza (abdico de palavra de origem religiosa – “seres” –, propositalmente). Dou exemplo em três belos poemas, fixados na imagem, renitente e poderosa, da cobra (serpente e cobra coral): Cisma , de Carlos Drummond de Andrade, narrando a experiência de um encontro casual entre o olhar cismático de reconhecimento mútuo – talvez preparando o embate no qual vença o mais apto – do poeta com uma cobra coral, e vice-versa. Que se diga: o poeta e a cobra não se comunicaram em português nem sânscrito, mas pela linguagem adâmica natural: Cisma Este pé de café, um só, na tarde fina, E a sombra que ele, faz, uma sombra menina Entre pingos vermelhos. Sentado, vejo o mundo ...

Alberto Caeiro e Walter Benjamin: a linguagem de Adão

Há muitos caminhos, muitas veredas para a poesia. Ela aparece nos lugares mais surpreendentes, pois antes de tudo, até mesmo de ser linguagem, diz respeito à elaboração da experiência direta e desnuda, bruta, do real, ao nosso corpo a corpo com natureza, como nos ensina, aliás, o heterônimo-mor (Alberto Caeiro, o poeta pagão) de Fernando Pessoa (um que poeta teve ao mesmo tempo um projeto filosófico, não se enganem, absolutamente consciente e medido, um dos motivos de ser talvez o mais instigante dos poetas modernos, em todas as latitudes). Walter Benjamin, na juventude, chamou a esta experiência desnuda com o real (ainda não me refiro à “realidade”) como “linguagem adâmica” (a linguagem de Adão), no fundo para refletir um paradoxo: a possibilidade entrevista de nomear diretamente pelas sensações. Reparem neste poema de Caeiro: [ 283] 1-10-1917 O Universo não é uma idéia minha. A minha idéia do Universo é que é uma idéia minha. A noite não anoitece pelos meus olhos, A minha idéia da no...

Antonio Cicero

Recebi e-mail pessoal do poeta e filósofo Antonio Cicero que resolvi postar, acerca de meu poema e o comentário crítico sobre Baudelaire, recém publicado no "Correio das Artes". Sei que a seriedade crítica do autor, um dos principais poetas brasileiros contemporâneos, não permitiria elogios fáceis. Opiniões assim me encorajam a encarar face a face o sibilino encontro com as musas: "Caro Jaldes, Obrigado por me enviar o seu poema e suas considerações sobre Baudelaire. Estas são muito interessantes, mas o poema é que é bom mesmo. Gostei muito. Parabéns. Antonio Cicero"

Satiagraha II

A gritaria em torno de uso de algemas e os delírios do inquérito do delegado Protógenes são meras manobras diversionistas visando tirar o foco do principal. Co-participam da operação diversionista senadores do DEM, blogueiros e jornalistas ligados aos comendadores das privatizações no governo FHC e membros de atual governo, numa verdadeira Santa Aliança. Se a questão for mesmo o constrangimento das algemas, sugiro prender com luvas de pelica. Resolva-se o espírito dos corações finos. (Jaldes Reis de Meneses).