O lugar da Paraíba Jaldes Meneses [1] O sábio professor Chico de Oliveira, Vice-Presidente da SUDENE cassado pela ditadura em 1964 e um dos principais intelectuais brasileiros, provocado em 2008, na UFPB, a respeito da “discriminação” do Nordeste, iconoclasta, aconselhou a desconfiar desse discurso. Deve-se verificar a idoneidade e os interesses da fonte. Os porta-vozes do discurso da discriminação em nossa história foram quase sempre as velhas classes decadentes que sobrevivem à sombra do aparelho do Estado, a exemplo da oligarquia agrária, que combatia os projetos de reforma agrária e industrialização de Celso Furtado, chamando-os de “comunistas”, mas, à sombra e água fresca, aparelhavam os escritórios do BNB (crédito e financiamento de projetos escolhidos politicamente à dedo), DNOCS (açudagem em propriedade privada) e IAA (preços administrados do açúcar). Deixemos de exumar cadáveres. Atualizo a provocação de Chico para pensar a Paraíba hoje (Celso Fu
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Mostrando postagens de abril, 2012
Tempos de militância
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Jaldes Reis de Meneses Em 1980, atravessamos, eu, Dario e Aldo Rebelo, de pés descalços, um pequeno riacho em Campina Grande, divisa entre a Universidade Federal e o Alto da Bela Vista, rumo a uma pequena reunião clandestina do PCdoB, depois de uma reunião aberta de estudantes no Diretório Acadêmico 11 de Agosto. Naquele tempo, era assim, primeiro se reunia os estudantes no diretório e depois se reuniam os quadros do partido. Gostava muito de Aldo, mais velho que eu creio uns cinco anos – que tinha uma namorada também clandestina em Campina Grande –, me impressionaram suas convicções sem pestanejar em ser contrário à fundação de um “Partido Popular”, que não era nem PT nem PMDB, debate que dividia o PCdoB, por onde o grupo de José Genoino abriu caminho para aderir ao PT. Para Aldo – recordo de um debate num convento franciscano em Salvador com ele, Genoino e Duarte Pereira –, o sumiço do PP na conjuntura não poderia simplesmente ser um erro de encaminhamento, como diziam, mas da po
Os dois degraus das eleições na França
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Jaldes Reis de Meneses Em um artigo aqui postado no portal wscom no dia 29 de fevereiro do corrente ano reclamei da péssima cobertura da mídia brasileira às eleições francesas, que insistia em cobrir apenas os dois principais candidatos, o indefectível neogaulista Nicolas Sarkozy e o insípido socialista François Hollande, se esquecendo do que chamei de “segundo degrau”, as candidaturas ascensionais de Marine Le Pen (populista de direita) e de Jean-Luc Mélénchon (frente de esquerda verde e comunista). Agora, às vésperas das eleições de domingo, a mídia brasileira finalmente teve que se curvar à realidade. Escrevi assim, ainda em fevereiro: “Há hoje na França, portanto, uma espécie de polarização em dois degraus, e não será impossível se um dos candidatos do degrau inferior for ao segundo turno. Nada disso aparece na Globo News.” Dito e feito: Mélénchon chega hoje nas pesquisas próximo aos 15 pontos, assediado por Le Pen (que começou na frente do segundo degrau e foi perdendo gá
José Américo de Almeida
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Jaldes Reis de Meneses No começo do novo século, em 2001, a Rede Paraíba de Televisão promoveu uma consulta popular para escolher o “paraibano do século XX”. A enquete mobilizou milhares de pessoas em escolas, praças e internet (começavam os primeiros prenúncios do ethos interativo das redes sociais) e o escolhido, em vez de um político, foi o nosso maior poeta, Augusto dos Anjos. O mesmo aconteceu em Pernambuco, onde Luiz Gonzaga derrubou Agamenon Magalhães. Duas grandes escolhas, sem dúvida. Contudo, a adesão à figura do artista apenas confirmava a desconfiança geral que envolve a política. Apenas parcialmente. As placas tectônicas da memória se mexem. O tempo segue disparando. Sucede que tanto em Pernambuco como principalmente na Paraíba atuaram movimentos de opinião que repunham à luz do dia os traumas históricos aparentemente esquecidos de 1930, numa espécie de revanche dos vencidos. Entre nós, houve uma ferrenha campanha contra o voto em figuras como João Pessoa ou José Améric
A minha UFPB
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Jaldes Reis de Meneses Depois das experiências compartilhadas com a minha família, me considero uma pessoa socializada pela UFPB. Não cheguei a esta instituição que tanto amo na idade adulta, pela condição de professor universitário concursado ou mesmo pela de estudante e liderança estudantil, mas como criança alumbrando para o mundo, correndo nos azulejos da Faculdade de Medicina ainda no tempo no qual a sua sede era na Avenida Alberto de Brito, em Jaguaribe (idos anos 60), e minha mãe uma servidora do Laboratório de Fisiologia. A minha primeira lembrança da UFPB são as de uma estagiária na biblioteca da faculdade, estudante de medicina, chamada Mônica (não consigo esquecer este nome nem a voz fina e pausada que lhe pertencia), que sempre me dizia, quando lhe perguntava, que os Estados Unidos iriam perder a guerra do Vietnã. Veredicto confirmado, Mônica, que nunca mais vi, desapareceu e por onde você estará ou se foi? Corria o ano de 1968, ia completar oito anos. A segunda lembrança,
Industrializações tardias
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Jaldes Reis de Meneses Quem se der ao trabalho de pesquisar os arquivos dos artigos de vários dirigentes importantes do PT – por exemplo, de José Dirceu – entre 2010 até começo de 2011, vai perceber que, para ele, o problema da desindustrialização no máximo era um exagero de alguns empresários paulistas, estranhos tucanos que continuavam a dar um tiro no próprio boom econômico do qual eram um dos principais beneficiários. A ênfase do discurso econômico oficial residia em constatar feliz o aumento da demanda do consumo das classes pobres. Desde meados do ano passado, acossado por guerras e tsunamis cambiais advindos da crise capitalista internacional, contudo, o diagnóstico começou a mudar. A preocupação com a “desindustrialização” passou a frequentar o discurso do governo. Começou com uma reunião em Brasília com os principais empresários do PIB brasileiro (e também dos “aventureiros” do desenvolvimento, tipo Eike Batista), seguido de uma viagem internacional à Índia, onde ocorreu mais