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Mostrando postagens de junho, 2012

Diário da corte

Jaldes Reis de Meneses Planejava escrever um artigo a respeito do livro de seleção de artigos de Paulo Francis na Folha de S. Paulo recém-reunidos pelo jornalista paulista Nelson de Sá (Diário da corte, Editora Três Estrelas, 2012), que me causaram uma péssima impressão, quando por acaso (nem tanto ao acaso, pois criei o hábito de ler impreterivelmente a sua coluna semanal às quartas-feiras no jornal O Globo), o grande Francisco Bosco (aos que não têm referência, filho do compositor e músico João Bosco, tão grande quanto o pai), revela também a sua decepção recente com o Francis (Bosco, pelo que sei, não chegou ainda aos 40 anos), principalmente o conteúdo provinciano e superficial (muitas referências e poucos cortes verticais, visando impressionar os incautos) de seus artigos. Caetano Veloso, uma espécie de contraponto polêmico às diatribes de Francis à época, embora desafeto, já havia escrito – também em uma coluna, dominical, em O Globo – que, apesar de tudo, Paulo Francis era uma

Esquerda e direita

Jaldes Reis de Meneses [1]             Acabei de ler dois livros antagônicos recém-lançados no mercado curiosamente pela mesma editora ( Três Estrelas ), demonstrando que o dinheiro desconhece diferenças ideológicas: o primeiro do filósofo Vladimir Safatle – A esquerda que não teme dizer seu   nome – e o segundo, reunindo depoimentos de João Pereira Coutinho, Luiz Felipe Pondé e Denis Rosenfield – Por que virei à direita.             Com formação de esquerda, compartilho do mesmo campo ideológico de Safatle (embora discorde de várias de suas teses), mas conheço bem a tradição do pensamento conservador moderno, infelizmente pouco estudado nas universidades brasileiras. Costumo dizer em sala de aula que o conservadorismo é uma espécie de pensamento-carrapato. O pensamento conservador na essência é polêmico e fechado. Ao contrário do que se pensa, nem todo pensamento polêmico é aberto. Desde quando Edmund Burke publicou em 1790 o clássico Reflexões sobre a revolução na França (

Campina Grande: renovação na tradição

Jaldes Reis de Meneses Existe um dado interessante pouco analisado na disputa eleitoral para a prefeitura de Campina Grande: todos os três principais candidatos (Romero Rodrigues, Daniela Ribeiro, Tatiana Medeiros) representam direta ou indiretamente a tradição atávica de alguma família envolvida há muitas décadas na luta política da cidade (Cunha Lima, Ribeiro, Rego). Mesmo um candidato do segundo pelotão (Guilherme Almeida) invoca explicitamente a condição de parentesco e continuador de um descendente ilustre, o ex-prefeito e médico Elpídio de Almeida (prefeito entre 1946-51). Até mesmo o PCdoB, ofereceu outro sobrenome (Araújo, evocação do poeta comunista Félix de Araújo) para vice de Guilherme, dessa maneira reunindo duas tradições. Campina Grande procura renovar-se na tradição. Poderia citar a frase de Marx sobre Hegel, muito citada e pouco compreendida, de que a história se repete como farsa. A interpretação livre de Marx esconde o sentido que Hegel queria dar ao fenômeno da

A crise do presidencialismo de coalizão

O seguinte artigo foi publicado em minha coluna quinzenal no Jornal da Paraíba, em 10/06/02. Jaldes Meneses [1]             O tempo funciona como uma espécie de apaziguador dos conflitos. Existe hoje a propósito da Constituição de 1988 toda uma louvação da conquista dos direitos sociais, mas se esquece de que a nossa carta foi escrita em meio a uma conjuntura econômica de inflação alta, resultado do fracasso do Plano Cruzado, e de uma crise do poder político do presidente Sarney, que manobrou em defesa dos cinco anos de mandato e do presidencialismo. Ambos foram consignados na letra da nova constituição. O presidencialismo em especial instituiu no Brasil um estranho regime político híbrido, no qual convivem institutos do parlamentarismo, a exemplo da Medida Provisória.             O presidencialismo de coalizão, a mistura brasileira presidencialismo e parlamentarismo, portanto, trata-se do fruto circunstancial de uma crise de poder. Veio ao mundo torto. Criou-se um regime no qu

Greve nas Universidades e trabalho docente

Jaldes Reis de Meneses Pela primeira vez desde 1998, as universidades brasileiras se encontram em levante. Acabei de assistir ao programa Jô Soares, no começo da madrugada, e o assunto em pauta era a greve dos docentes das Universidades públicas. Por quê? Não tenho respostas conclusivas, mas o atrevimento de algumas hipóteses. Pretendo escrever outros artigos, mas gostaria em primeiro lugar de glosar a questão do trabalho intelectual docente. Só há como abordar o tema da (des)valorização do trabalho docente inserido no contexto das transformações do capitalismo contemporâneo e dos sistemas de ciência e tecnologia. Ao tratarmos de uma campanha salarial e de uma greve das universidades federais, em um país como o Brasil, que possui um dos 16 sistemas de produção de ciência do mundo, e o maior da América Latina, mais de 90% nas universidades públicas, é quando aquilatamos a dimensão global do processo no qual estamos inseridos. Trabalho intelectual-cerebral é a principal forma do tr