Postagens

Mostrando postagens de 2017

Ainda a Revolução Russa. A revolução e o Estado

Jaldes Meneses De te fabula narratur - Horácio Previsivelmente, a comemoração do centenário da revolução russa reuniu o melhor e o pior, o biscoito fino e o lixo, da análise política e da teoria social. Centenas de debates, seminários, mesas redondas, colóquios, publicações, etc., demonstram que a revolução de outubro (calendário Juliano, sete de novembro, calendário Gregoriano) permanece um acontecimento vivo e interpelando o tempo presente de nossas vidas. Desta maneira, antes de tudo, dado o impacto numérico das comemorações, é importante observar - para além da qualidade e do mérito das contribuições - que fazer o balanço vertical da revolução trata-se de uma matéria histórica presente, sujeita a controvérsia de imediata ressonância política. As posições a respeito da revolução se politizam rapidamente. Mais que passado ou presente, à maneira do estudo de um paraíso perdido do neolítico ou uma civilização pré-colombiana, a revolução russa continua interpelando o futuro

Gramsci e Lenin

Jaldes Meneses "Se eu não me queimo Se tu não te queimas  Se nós não nos queimamos  Como as trevas se tornarão claridade” - Nazım Hikmet A viragem na linha política produzida em 1921/22 no Movimento Comunista Internacional – NEP e frente única,   duas respostas objetivas e combinadas a movimentos de transformação da própria realidade russa e européia –, compõe um marco histórico e teórico fundamental na periodização de Gramsci sobre o processo de revolução passiva   no século XX. O processo contemporâneo de revolução passiva no século XX foi desatado exatamente como um subproduto da Revolução Russa: as respostas (políticas, econômicas, culturais, etc.) do sistema capitalista contra a sociabilidade gerada pelo novo tipo de revolução socialista (os sovietes) – emblematizados no fascismo e no fordismo –, e vice-versa, nos esforços promovidos pelos próprios soviéticos na evolução da Revolução Socialista – a NEP. Gramsci chegou à URSS em 1922, avesso à políti

Gramsci e a Revolução Russa

Gramsci e a Revolução Russa Jaldes Meneses Como previsível a comemoração dos 100 anos da revolução russa reuniu o melhor e o pior, o biscoito fino e o lixo, da análise política e da teoria social. Centenas de debates, mesas redondas, colóquios, publicações, etc., demonstra que a revolução permanece um acontecimento vivo e interpelando o tempo presente de nossas vidas. Desta maneira, antes de tudo, dado o impacto numérico das comemorações, é importante observar - para além da qualidade e do mérito das contribuições - que fazer o balanço vertical da revolução trata-se de uma matéria histórica fundamental. Comemorar 1917 em 2017 irremediavelmente condensa as marcas de nosso tempo. A propósito estamos a lembrar do ensaio “Ecos da Marselhesa”, de Eric Hobsbawm, sobre a comemoração dos 200 anos da revolução francesa de 1789. Recorda Hobsbawm que, passado os anos, cada efeméride é comemorada de sua maneira. Ou seja, comemorar a revolução é também dela se aproximar. No alvore

Crises Macunaímicas, Traquinagens Jurídicas, Devaneios de Esquerda

Jaldes Meneses Enquanto houver bambu, lá vai flecha. Não estou me referindo a Janot ou o Ministério Público, mas à abundância de bambus nos arraiais da esquerda brasileira. Refiro-me à dura polêmica estabelecida pela divulgação da nota da executiva nacional do PT sobre o “caso de Aécio Neves”. Não se fazem mais “erros históricos” como no passado. A exemplo de quando a direção do PCB em 1956 retardou o debate sobre o XX Congresso do PCUS e o stalinismo, ou quando, novamente, retardou o balanço da atuação amorfa no golpe de 1964. Estávamos diante de “erros históricos”, de ideologia e estratégia, de larga envergadura. A coisa banalizou. Não sou filiado ao PT, portanto desimpedido de qualquer alinhamento de luta interna. Sei das insuficiências da direção deste partido, especialmente no teste de 13 anos de governo, em que se pese o que fez de positivo. Entretanto, na relação governo-partido, no essencial, o partido perdeu a autonomia e mais parecia uma correia de transmissão

A resiliência de Lula e a transferência de votos

Jaldes Meneses As pausas e os silêncios são fundamentais e dizem muito, tanto em música como em psicanálise. O fato de a mídia tradicional brasileira fazer ouvidos de mercador aos resultados da pesquisa MDA-CNT divulgados ontem são bastante sintomáticos. Trata-se de um silêncio que grita. Foi preciso um jornal inglês e dirigido ao mercado financeiro, o Financial Times, acusar o golpe e abrir o jogo. Para o Financial, o “mercado” pode ir tirando o cavalinho da chuva: na hipótese da interdição do Lula, não serão os tucanos os beneficiados (a popularidade deste partido está na lona), mas Jair Bolsonaro. E ainda por cima o Financial adverte que o “paraíso” da gestão Temer tem prazo de validade: até 31/12/2018. Os números da pesquisa MDA-CNT escancaram que, mesmo após a festejada audiência amigável entre Palocci e Moro, Lula permanece em primeiro lugar. Mais. Cresce! Bate todos os adversários em primeiro e segundo turno. Marina perde o segundo lugar. Os

Não sou eu quem me navega

Resenha: Dardot, Pierre; Laval, Christian. A nova razão do mundo (ensaio sobre a sociedade neoliberal). São Paulo, Boitempo, 20016. Jaldes Meneses    Noves fora a apologética do  mainstream  regiamente financiado, ao longo de mais de trinta anos se consolidaram duas vertentes de estudos críticos, não necessariamente excludentes, sobre o neoliberalismo. A primeira, mais tradicional e difundida, tem na síntese “Neoliberalismo - história e implicações”, de David Harvey (2012), um de seus esteios característicos. A segunda, mais recente, atende pela vertente inaugurada pelos estudos de Pierre Dardot e Christian Laval, cujo seminal “A nova razão do mundo” (2016), recentemente editado no Brasil, mistura criativamente e sem concessões ao ecletismo as démarches de Marx e Foucault.  Lukács sugeriu a possibilidade de uma crítica e autocrítica "ontológica” das ciências particulares (entre as quais as ciências sociais) pela filosofia. No caso particular de uma “crítica on

Doutrina Trump: Alinhamento aos Estados Unidos ou Interesse Nacional

Lindbergh Farias (Senador PT-RJ) Jaldes Meneses (Prof. História-UFPB) O mundo e a América Latina em alerta máximo. Trump começou a semana bradando que a Coréia do Norte receberá “o fogo e a fúria” das bombas atômicas americanas “como o mundo jamais viu" e terminou ameaçando a Venezuela de “opção militar” direta, visto que “[a Venezuela é nossa vizinha, e nossas tropas estão por todo o mundo”. Muitos analistas internacionais punham em dúvida até esta semana a existência de uma “doutrina Trump”. Não deve haver mais dúvida. Parafraseando Shakespeare em Hamlet, é "loucura sim, mas tem seu método”. Nossa geração – homens e mulheres que não viveram na pele a experiência da Segunda Guerra Mundial – começa a viver uma encruzilhada trágica da história. No fundo, adotando a loucura como estética de ridículo político (Hiltler e Mussolini já fizeram uso do mesmo expediente), o presidente americano propõe a saída clássica da guerra no capitalismo como solução da crise do modo