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Espectros do fundamentalismo

Jaldes Reis de Meneses As três grandes religiões monoteístas – o judaísmo, o cristianismo e o islamismo – nasceram na mesma região e, a par de diferenças, de que logo tratarei, possuem similitudes históricas e filosóficas de tal ordem que se pode detectar sem erro uma zona de trânsito na qual se pode praticar o ecumenismo. Infelizmente, os tempos do mundo não são favoráveis aos ares do ecumenismo: o fundamentalismo em geral – e não somente o fundamentalismo islâmico –, conquanto em ritmos diferentes, cresce como rastilho de pólvora. Começo por nossa casa, os cristãos. Depois do aggionamento produzido nas práticas da Igreja Católica – inclusive na direção ao ecumenismo e o respeito os sincretismo religioso – depois do Concilio Vaticano II (1961-1965), na época dos extraordinários papados de Joao XXIII e Paulo VI, o ecumenismo recrudesceu desde João Paulo II e Bento XVI. Acossado pela crise dos valores da sociabilidade capitalista, ocidental e cristã, a resposta da alta cúpula católica...

Revoluções de ira, perfume de jasmim

Artigo também postado no portal wscom Jaldes Reis de Meneses Os países da confluência do mundo árabe-africano vivem um momento revolucionário. Goste-se dele ou não, a melhor síntese explicativa dos processos revolucionários foi produzida por Lênin nas cartas políticas redigidas em 1917. Verdadeiros monumentos de estratégia, merecido recordá-la a guisa de analisar as manifestações de rua do Egito, Tunísia, Argélia, Jordânia e Iêmen: para acontecer uma revolução é preciso que os de baixo não aceitem mais a dominação e também que os de cima não consigam governar como antes, ou seja, abre-se uma fenda no poder cujo desfecho nunca se sabe de antemão. Devido o grau indeterminação, as revoluções são desafios às teorias jurisdicionais da política. A antiga ordem cede ao novo e à indeterminação. Em vez do Estado em qualquer de suas formas jurídicas, seja o democrático de direito ou autocrático (como no mundo árabe), abre-se uma fenda de democracia direta, de criação de direito. Não seria exage...

A Transição Suave

Redigi este artigo ainda o ano passado, mas ainda não havia postado no blog. A data de hoje, 31 de janeiro, é oportuna para publicá-lo, antes que a conjuntura o desatualize (o novo governo Dilma completa o primeiro mês). Boa leitura. Jaldes Reis de Meneses Há duas grandes novidades históricas na transição de governo entre Lula e Dilma Rousseff, autênticos pontos de mutação em nosso padrão republicano, que tem passado em brancas nuvens. Quando o extraordinário vira cotidiano quase ninguém percebe, invisível se torna até mesmo aos olhos dos mais atilados analistas políticos. Quais são as novidades? Em primeiro lugar, caso recordemos a série história das sucessões presidenciais a partir da emergência do Brasil moderno (década de 1920), todas as eleições foram marcados por crises políticas agudas, nas quais eram incertos inclusive o respeito ao resultado das urnas. A trama golpista compunha a cultura política brasileira, até o grave desfecho da crise do governo populista de João Goulart ...

Paraíba: microcosmos do Nordeste

Artigo também postado no portal www.wscom.com.br No começo dos anos 1980 um deputado paraibano do chamado “grupo autêntico” do PMDB procurou uma personalidade nascida em Pombal, recém anistiado, cujo nome de cientista tinha alcance mundial, propondo a sua pré-candidatura a governador da Paraíba. O nome do deputado era Marcondes Gadelha é a personalidade, Celso Furtado, que topou depois de consultado antigos companheiros de jornada na SUDENE – alguns expatriados e outros residindo inclusive na Paraíba –, o desafio. Cavalheiro andante em busca de mais uma (frustrada) navegação venturosa, Furtado se emprenhou pelos caminhos da Paraíba, comendo poeira estrada afora, principalmente ministrando palestras sistemáticas, brilhantes, racionais, chamativas mais ao cérebro que ao coração, onde quer que fosse convidado. Previsivelmente, a candidatura gorou. Na verdade, Celso Furtado fora joguete de uma simples manobra tática, postergatória, do setor do PMDB que o convidara, acossado pelo espectro d...

Paraíba: Estado de Emergência

Jaldes Reis de Meneses A Paraíba vive um momento fora da normalidade, de verdadeiro Estado de Emergência. Os jornais e as revistas semanais da primeira semana do ano produziram com destaque farto noticiário sobre a passagem do velho ao novo governo (são 14 novos governadores, descontados os reeleitos) em seis Estados insolventes da federação, em crise fiscal e financeira: Brasília, Rio Grande do Norte, Goiás, Amapá, Pará e Paraíba (http://extra.globo.com/noticias/brasil/governadores-de-cinco-estados-iniciam-mandato-de-caixas-vazios-pires-na-mao-830567.html). Ao cotejar friamente os números relativos de todas as heranças, chega-se a uma maldita conclusão: a Paraíba ocupa o primeiro lugar no ranking das dívidas de curto e médio prazo (restos a pagar). Mas não isso, espécie de vanguarda do atraso, também nos posicionamos no pagamento dos maiores salários detectados de marajá em estatais e em números de servidores temporários, sejam comissionados ou serviços prestados. Mesmo Brasília, cuja...

Ricardo Coutinho: uma nova hegemonia política

Jaldes Reis de Meneses[1] Artigo publicado no jornal A UNIÃO, em 02/01/11 Guardadas as devidas proporções, a vitória de Ricardo Coutinho ao cargo de governador da Paraíba produziu uma corrente de expectativas e esperanças comparável a primeira vitória de Lula à presidência do Brasil em 2002, ou mesmo à eleição de Barack Obama nos Estados Unidos em 2008. Desconfiando e muitas vezes descrente com a política e os políticos, raramente os eleitores se dão ao prazer de sorrir contente “da” e “com” a política. A eleição de Ricardo Coutinho é um desses casos. Logo que começou a campanha eleitoral de 2010, formulei uma simples conjectura explicativa (nada mais que isso) de que a disputa seria entre um candidato da “mensagem” (Ricardo Coutinho) contra o candidato das “estruturas” (José Maranhão). Qual o significado da polaridade? As estruturas configuram o coeficiente de conservantismo de nosso sistema político, brasileiro e nordestino, um imenso aparelho que ...

Complexo do Alemão: subo e nunca chego ao céu

Jaldes Reis de Meneses. Professor do Programa de Pós-Graduação em História (UFPB). São Carlos, Morro, Borel/Subo e nunca chego ao céu. (Sérgio Sampaio, in Cruel, de preferência na voz de Luiz Melodia acompanhado pelos meninos da Escola de Música da rocinha: http://www.youtube.com/watch?v=thtieD7Aeo8 e a cuja beleza dedico, modestamente, este artigo) À bem da verdade, logo de começo o mais relevante, desmentindo uma mentira, de tanto repetida, tornada enganoso senso comum: o Estado brasileiro sempre esteve presente nas favelas, principalmente as do Rio de Janeiro (quando nada, importante reduto de massa eleitoral). Como assim? Quem não está na favela somos nós os milhões que acompanhamos os acontecimentos através da TV a cabo. Dilma Rousseff e Sérgio Cabral, por exemplo, subiram o morro e fizeram comícios eleitorais no indigitado complexo do Alemão. As obras do PAC estavam a pleno vapor na favela, basta ver a adiantada construção de um autêntico teleférico de inspiração colombiana, mei...