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Mostrando postagens de maio, 2012

A lira dos setenta anos

Paul McCartney, Gilberto Gil e Caetano Veloso (quem mais?) completam 70 anos, atuantes, produtivos e, ouso afirmar, ainda em evolução no desenvolvimento de suas carreiras, que só devem se esgotar com a morte. Desmistifico, de imediato, a palavra morte: qualquer um de nós pode estar propenso a morrer no próximo minuto, seja por um assalto na esquina ou uma mágoa definhadora do espírito, da mesma maneira que começamos a envelhecer no preciso instante em que somos gerados. Morre-se porque se está vivo e nada é imortal. Não passa de preconceito atribuir a quem chega aos 70 anos a proximidade sonambúlica da morte. Poder-se-ia revirar o argumento pelo avesso, embora esteja longe do senso comum: aos 70, os sentidos podem encontrar novas fragrâncias e ressonâncias, impulsionar desafios e enigmas ainda imberbes à decifração. Goethe, escritor clássico alemão do século XIX, um dos pais da língua(e para Lukács também um grande político recalcado convivendo com um cientista mediano), viveu até a

Universidades em greve

Jaldes Reis de Meneses Os docentes das universidades federais brasileiras estão em greve. Na mesa de negociações entre os grevistas e o governo existe um único e perverso consenso, que justifica o movimento: o patamar atual dos salários dos professores das universidades públicas é baixíssimo. Não faço figura de retórica: os vencimentos básicos de um professor em início de carreira (20 horas de trabalho semanais), pasmem, são menores que o salário mínimo. Trata-se do menor piso salarial entre todas as 73 carreiras do serviço público federal. Sem chauvinismo, apenas constato um professor universitário com doutorado ganha menos que um policial rodoviário. A proposta dos professores – que acredito seja perfeitamente factível para o tesouro nacional, tendo em vista o crescimento econômico dos últimos anos – é de subir o piso para a quantia de 2.329,35 (valor do salário mínimo do DIEESE). Ninguém há de negar a importância estratégica do trabalho dos professores-pesquisadores universit

A verdade do poema

“(...)   uma das poucas ocasiões em que conseguimos romper a cadeia utilitária cotidiana é quando, concedendo a um poema a concentração por ele solicitada, permitimos que nosso tempo seja regido pelo poema. Configura-se então um tempo livre, Istoé, um tempo que já não se encontra determinado pelo princípio do desempenho. Afinal, a rigor, o poema não serve para nada. Ou bem a leitura de um poema recompensa a si própria, isto é, vale por si, ou bem ela não vale absolutamente nada”. In: Cicero, Antonio.   Poesia e filosofia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2012.

Vida cigana

 Jaldes Reis de Meneses Um dia, numa avenida paulista, em dia de garoa, ... Lorena desafiou o chefe todo-poderoso a provar a verdade E, no mesmo instante, ato contínuo, a matá-la em sacrifício Da trágica revelação que o dia tem dono e a noite fecha-se em copas. Saiu da reunião. Enfrentou a garoa. É gauche na vida. Manhã cedo passa: a orfandade das coisas simples: A bússola apontou em direção ao primeiro antigo namorado, Em Volta Redonda. Lorena, menina paulista, apanhou O trem em Mogi das Cruzes. Foi dar de cara numa greve. Andou, caminhou, apanhou, aprendeu, desconfia. Recolhe a voz, finge-se de surda a qualquer alarido. Sabe que as verdades dos jornais amanhecem velhas, Passaram, um dia, numa avenida paulista, em dia de garoa.

Corrupção à brasileira

Artigo publicado em versão resumida na minha coluna quinzenal do Jornal da Paraíba, em 13 de maio de 2012. Jaldes Reis de Meneses O repúdio amplo, geral e irrestrito ao senador Demóstenes Torres (DEM), cuja reputação foi tragada nas denúncias de relações promíscuas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, levou às manchetes um tema que jamais saiu da ribalta – a corrupção –, mas esteve eclipsado por um bom tempo pelas boas notícias da economia desde os tempos da “crise do mensalão” (2005), porém, antes, quase pôs a pique o governo Lula e o PT. No final do semestre, agravado pelos trabalhos da nova CPI do Cachoeira (uma reedição atualizada, digital, para o terceiro milênio, da antiga “CPI do orçamento”, analógica), sempre imprevisíveis, o espectro do “mensalão” deve voltar à baila, com a iminência de julgamento no supremo. A conjunção da CPI com o julgamento do “mensalão” sem dúvida arma insumos de uma crise política (os boletins da ABIN devem começar a chegar em tom preocupado à mesa

O recado de Caetano

Através do amigo comum Sílvio Osias recebi verbalmente, por telefone, uma manifestação de Caetano Veloso a respeito de um artigo meu de ocasião, que deverá se desdobrar em outro maior, “Roberto Schwarz versus Caetano Veloso” (publicado no portal wscom e em meu blog), mas isso é o de menor importância. Mais vale o conteúdo de seu recado. Caetano, leitor atento, afirma que o ponto alto do artigo é a passagem de diálogo com Walter Benjamin e Lukács, a propósito do conceito de alegoria e a maneira de como Schwarz reafirma, anos passados, a mesma questão no artigo recente. Diz ter gostado da menção que fiz a “Marinheiro só”, como uma das sínteses alcançadas em sua arte. Vindo de um intelectual já histórico da cultura brasileira, só tenho a agradecer a generosidade crítica de Caetano. (Jaldes Reis de Meneses).

Roberto Schwarz versus Caetano Veloso

Jaldes Reis de Meneses Acabei de ler compulsivamente, a palo seco (comprei o livro no Shopping Center ao meio dia de hoje), o novo livro de Roberto Schwarz, Martinha versus Lucrécia (Cia das Letras, 2012). Vou ler as teses do livro com mais vagar e escrever um artigo mais circunstanciado a respeito – Scwharz, como Chico de Oliveira, têm por hábito escrever livros de poucas páginas, contudo nos quais cada palavra tem a medida precisa, nenhum adjetivo é desnecessário, nenhum substantivo é escolhido ao puro sabor da dança das letras. Trata-se de escritas que como os melhores vinhos demoram longo tempo temperando nos odres. Tenho compaixão dos que ainda não aprenderam a sorvê-las. Li com avidez o ensaio inédito de Schwarz a respeito de um livro que já pode ser considerado um clássico do pensamento brasileiro, Verdade Tropical – na altura das melhores páginas de um Gilberto Freyre ou um Florestan Fernandes –, escrito por Caetano Veloso, e tratado com a reverência dedicada às grandes obr