A lira dos setenta anos
Paul McCartney, Gilberto Gil e Caetano Veloso (quem mais?) completam 70 anos, atuantes, produtivos e, ouso afirmar, ainda em evolução no desenvolvimento de suas carreiras, que só devem se esgotar com a morte. Desmistifico, de imediato, a palavra morte: qualquer um de nós pode estar propenso a morrer no próximo minuto, seja por um assalto na esquina ou uma mágoa definhadora do espírito, da mesma maneira que começamos a envelhecer no preciso instante em que somos gerados. Morre-se porque se está vivo e nada é imortal. Não passa de preconceito atribuir a quem chega aos 70 anos a proximidade sonambúlica da morte. Poder-se-ia revirar o argumento pelo avesso, embora esteja longe do senso comum: aos 70, os sentidos podem encontrar novas fragrâncias e ressonâncias, impulsionar desafios e enigmas ainda imberbes à decifração. Goethe, escritor clássico alemão do século XIX, um dos pais da língua(e para Lukács também um grande político recalcado convivendo com um cientista mediano), viveu até a