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Mostrando postagens de março, 2012

João Pedro Teixeira

Jaldes Reis de Meneses Cabra marcado para morrer, numa tarde crepuscular em Café do Vento, no dia 02 de abril de 1962, um líder camponês em viagem de volta ao lar, solitário caminhante na estrada, é emboscado por pistoleiros a mando do latifúndio (como se dizia na época) e morto sem apelação. O sacrifício visava servir de exemplo a quem ousasse levantar a cabeça do chão contra as relações sociais servis pré-capitalistas então vigentes no mundo rural nordestino. A história da morte de João Pedro Teixeira amanhã completará meio século. Se aristocracia na origem remota da palavra quer dizer exemplo na guerra, nossa aristocrata é dona Elizabeth Teixeira, viúva de João Pedro, jamais um dos descendentes rentistas dos ex-coronéis do Grupo da Várzea. A data do martírio do líder camponês não passará em branco. Amanhã, contando com o apoio da UEPB, UFPB e Governo do Estado, por iniciativa do professor Alder Júlio Calado, entre outros, deverá ocorrer a inauguração, na antiga casa de João Pedro

... (1964-1974)

Jaldes Reis de Meneses Acabei de assistir a “Quando o carnaval chegar” de Cacá Diegues (1972) no Canal Brasil (TV a cabo), com Chico Buarque, Nara Leão e Maria Bethania, reunindo canções da era do rádio e depois canções que se tornaram clássicas (Baioque, Bom Conselho, etc.). Já havia assistido ao filme muito cedo, aos 12 anos, em meus tempos de pré-adolescência numa sessão da tarde de terça-feira no desaparecido Cine Plaza, em frente ao Ponto de Cem Réis, em João Pessoa. À noite, me lembro como se fosse hoje, seguiram-se discussões sobre o filme na casa de Silvio Osias (hoje jornalista) em Jaguaribe, não lembro bem com quais outros amigos, mas era um grupo de uns quatro ou cinco. Fui apresentado ao golpe de 1964 pela via da chanchada e da alegoria. Não há como deixar de derramar algumas discretas lágrimas nos olhos: até hoje tenho de cor as canções do filme, mas havia esquecido a trama, que acabei de recuperar. Em termos de cinematografia, “Quando o carnaval chegar” ensaia elemento

Rosa Godoy

Jaldes Reis de Meneses O grande professor se conhece em sala de aula, pela dedicação ao ofício e o desprendimento na relação com os seus alunos. A palavra que resume tudo isso é paixão, a paixão, como diz Max Weber, de quem tem a ciência como vocação. É esta principal impressão subjetiva que vou levar por todo o resto de minha vida da professora Rosa Godoy, de quem fui aluno de História do Brasil na UFPB nos tempos heróicos e fervilhantes da década de 1980, e depois, já em tempos de calmaria, me tornei colega de departamento e amigo. Passados quase quarenta anos de residência contínua em Tambaú, cidadã paraibana com todos os méritos, Rosa decidiu fazer a viagem de volta a São Paulo. Penso que mão abandona a Paraíba nem os amigos, nem vai refazer o roteiro de volta. Vai continuar a viver a vida vivida, o que é mais importante. Rosa Godoy é uma das raras pessoas que têm o dom de personalizar objetos, desmineralizá-los, se me permitem a criação. Intuitivamente, ela concebe os objetos em

1922 e o bloco histórico

Comecei neste domingo a colaborar com uma coluna quinzenal no JORNAL DA PARAÍBA. O artigo de estréia, em 28 linhas, necessariamente sintético, segue abaixo, acrescentado de algumas palavras: 1922 e o bloco histórico Jaldes Reis de Meneses Comemoramos em fevereiro os 90 anos da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, e vamos comemorar no dia 25 de março também os 90 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil (PCB), em Niterói. São dois acontecimentos capitais para entender o Brasil no século XX. Poucos sabem quando estão fazendo o alcance histórico de suas atitudes, mas compunha o discurso tanto dos jovens artistas burgueses de São Paulo – Mário e Oswald de Andrade –, como dos intelectuais trabalhadores reunidos em Niterói – Astrogildo Pereira e Cristiano Cordeiro –, a percepção de que alguma nova estava acontecendo. Naqueles acontecimentos, sem dúvida, estavam sendo plantadas as sementes do Brasil moderno. São acontecimentos aparentemente sem relação direta. C

Carlos Nelson Coutinho

Jaldes Reis de Meneses Ensaísta, tradutor, crítico literário e filósofo político, Carlos Nelson Coutinho (CNC) já fez o seu nome na história do marxismo brasileiro. Junto com Leandro Konder, ainda nos gloriosos anos sessenta, em que todas as subversões foram testadas, foi pioneiro ao introduzir em nosso cenário cultural o marxismo historicista de Antonio Gramsci e a ontologia materialista do ser social de Gyorgy Lukács, numa época em que o nosso cânone marxista – salvo algumas exceções, como Caio Prado Jr. e o embrionário grupo paulista de “marxismo ocidental” da USP (José Arthur Giannotti e Roberto Schwarz como principais figurantes) –, limitava-se a reiterar as formulações políticas e filosóficas do chamado marxismo-leninismo ou marxismo da terceira internacional. No Brasil, parafraseando o Ministro varguista e americanista Osvaldo Aranha, as ideias demoram a passar na alfândega. Pois bem, a posição de CNC pode ser situada precisamente neste entreposto renovador, nada provinciano, po

Hegemonia em perigo

Jaldes Reis de Meneses A política é uma arte ingrata: quando mais se pensa que se vive em céu de brigadeiro, de repente aparecem nuvens no ar. Jamais há descanso. Desta maneira, a derrota que o governo Dilma sofreu ontem no senado (o veto a recondução de um diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres), aparentemente uma bobagem, vem acender uma espécie de luz amarela. Menos pelo ramerame da famosa “base governista”, sempre sequiosa de pleitos ad hoc, e mais pela combinação explosiva germinada pelo desenvolvimento da conjuntura. O PMDB realmente é profissional, ao menos no Senado: inventou de dar uma “traidinha” precisamente no momento da revelação de dois acontecimentos incômodos ao governo: a divulgação do índice de crescimento do PIB de 2011 (2,7%, abaixo de todas as expectativas divulgadas pelo ministério da fazenda ano passado, cujas previsões giravam em torno de 5%) e o crescimento vertiginoso (previsível) de José Serra nas eleições de São Paulo. Acaso adicionarmos a tud

Oito de março, o dia triunfal de Fernando Pessoa

Jaldes Reis de Meneses No começo do ano de 1935, próximo da data de desaparecer precocemente, encantar-se e virar estrela, com apenas um livro publicado (Mensagem), o poeta lusitano Fernando Pessoa escreveu uma carta, famosa a posteriori, ao crítico literário Adolfo Casais Monteiro, na qual relata os acontecimentos do dia 08 de março, numa longínqua tarde de 1914, o “dia triunfal” de sua vida. O “dia triunfal” deu-se à maneira de um “estalo de Vieira”: em um dia aparentemente banal, de repente a partir de um transe inspirado do poeta, vieram à vida no território livre da linguagem, alojados na pisque, os três heterônimos mais célebres de sua imensa coleção de 72 heterônimos de Pessoa: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Comemora-se no mundo inteiro e é feriado nacional na Irlanda, o dia 16 de junho – o Bloomsday – alusivo às horas de Odisséia do personagem de James Joyce em Ulisses, Leopold Bloom, pelas ruas de Dublin. Porém, ao contrário de Joyce, até hoje, o “dia triunfa