Postagens

Mostrando postagens de dezembro, 2012

Nelson Rodrigues

Jaldes Reis de Meneses Tenho certa vergonha e até pudor em escrever a respeito de temas ao redor dos quais se formou um consenso social de gosto, principalmente os de arte e literatura. Os consensos intelectuais são os mais alienados. Vivemos tempos de leitura – e também de escrita – automática, mais parece valer o “efeito manada” típico dos mercados financeiros, no qual o nosso gosto se adapta às correntes de opinião. Todo o mundo ama Guimarães Rosa e Clarice Lispector – nem precisa fazer a viagem de imersão da leitura –, autores imbatíveis na seleta de sentenças exemplares, que circulam aureolados por gravurazinhas de estilo duvidoso (e fundo musical meloso) nas redes sociais a pedir o toque automático no infame “curtir” (simpática expressão dos anos setenta recuperado pelo tradutor de português do facebook). O escrito se transforma, por um passe de mágica, na melhor das hipóteses, em um moralista, ou na pior, em um vendedor de drops de autoajuda. Tudo isso é muito bonitinho e ordi

A marca RC

Jaldes Meneses Artigo publicado em minha coluna quinzenal no Jornal da Paraíba, em 23/12/2012, em versão ligeiramente modificada e reduzida. A Paraíba vive um bom momento desde 2004, no encalço do crescimento brasileiro, em que pese as dificuldades impostas aos estados mais pobres pelas políticas de desonerações fiscais anticíclicas do governo federal, adotadas desde 2008, somado agora à seca euclidiana de 2012 e os impasses da transposição sem fim das águas do rio São Francisco. Entre outros, três simples indicadores econômicos recentes demonstram a assertiva do bom momento. 1) As avaliações mensais de aumento de postos de emprego formal feitas pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), no qual a Paraíba figura entre os cinco primeiros Estados da federação (em agosto, por exemplo, foram gerados 7.85 empregos formais). 2) A elevação da competitividade, a Paraíba é o 16º Estado do Brasil e quinto do nordeste, conforme dados de 2012 da consultoria britânica EIU

Baudelaire

Jaldes Reis de Meneses I Através de uma baforada de ópio ou no doce verde do haxixe, Em um quarto escuro de hotel, no século XIX, em Paris, Sentiu um fugidio instante de felicidade. Mas o vinho, o ácido Favorito dos realistas, fez Baudelaire abandonar os lençóis da cama E retornar à multidão. A revolução é uma festa de pão, rosas e cravos. Outrossim, o querubim pode ser um anjo demoníaco disposto a preparar Uma peça no poeta. O querubim prefere os paraísos artificiais, Pois nestes sequer habita a utopia, somente a satisfação. II Nunca mais, nunca mais, nunca mais, Baudelaire Abandonará o seu corvo noite adentro. Nada lhe orla a sombra Doravante, perfume, rubi, diamante, somente a sua nua Nada heróica magreza. Sequer o vinho, antigo companheiro de jornadas, Irriga-lhe o sangue. Por outro lado, o pó branco das papoulas Sabe aureolar a fugacidade. O brilho das ampolas Ilumina a beleza das passagens de Paris. Sem

Corinthians

Escrevi o artigo abaixo quando da vitória do Corinthians na Libertadores da América e esqueci de postá-lo aqui. Hoje, data da conquista do Campeonato Mundial pelo Corinthians é o melhor dia de postá-lo. 'Não sou contintiano - bigamo em futebol, prefiro o Vasco e o Santos - mas adoro guerreiros e tenho uma discreta simpatia por loucos. Jaldes Reis de Meneses O primeiro gol do Corinthians no título da Libertadores aconteceu na verdade em 1977, outra vez em uma noite de garoa: naquele dia, Basílio (ex meio volante da Portuguesa) estufou na rede de seu time anterior e liberou seu novo time do estigma de eterno perdedor. Junto ao título do time da massa do Zé ninguém de São Paulo, também começava acabar a ditadura. Só me lembro de ter torcido pelo Corinthians em duas noites de garoa, naquele tempo e agora. Torci por que sei que em São Paulo o dia de hoje equivale a quase uma Copa do Mundo O meu time paulista predileto, embora não seja precisamente um torcedor, é o Santos, o m

UEPB de parabéns

Jaldes Meneses O governador Ricardo Coutinho tomou a única decisão correta que poderia ter tomado: nomeado Antônio Rangel Júnior reitor da UEPB. Está de parabéns. Havia uma torcida do quanto pior melhor vinda dos eternos pescadores em águas turvas. O intento indisfarçável era criar uma nova crise em Campina Grande e na Paraíba, contudo neste caso por um hipotético motivo inteiramente justificável. Por exemplo, no exato momento em que escrevo este artigo, a comunidade universitária da PUC-SP encontra-se em greve, contrária à decisão da diocese de São Paulo em nomear um segundo nome na lista tríplice que foi enviada pelo Conselho Universitário ao Arcebispo Metropolitano. Tanto em São Paulo como aqui na Paraíba, escutei argumentos de que o bispo ou o governador tinham prerrogativas de nomear qualquer um dos nomes da lista tríplice. É falso. Falou-se até que só no Brasil se faz eleição direta de reitor. Realmente, quem fala isso nada conhece da história da Universidade: nos tempos

Oscar Niemeyer (1907-2012)

Céu de Brasí­lia/ Traço do arquiteto/ Gosto tanto dela assim Djavan/Caetano Veloso, Linha do Equador   Jaldes Meneses Com o falecimento de Oscar Niemeyer o Brasil do século XX definitivamente é passado. Toda a geração de fundadores do Brasil moderno, enfim, já não se encontra em carne viva entre nós. Resta-nos apreciar a obra imorredoura e cultuar a memória. Minha primeira lembrança forte de Niemeyer não vem da arquitetura, mas do personagem Marcos, o arquiteto comunista do romance “Subterrâneos da liberdade”, de Jorge Amado. Jovem adversário do regime de Estado Novo, Marcos, alter-ego de Oscar, participava do combate clandestino à ditadura de Vargas, protegendo no abrigo de seu escritório amigos comunistas perseguidos pela polícia política. O retrato de Marcos pintado por Amado é a de um companheiro de viagem oriundo do mundo e dos hábitos burgueses, mas carregado de sentimento de solidariedade e justiça. Por outro lado, o arquiteto de vida legal e profissional ascendente me

Caetano Veloso

  Jaldes Reis de Meneses   Acabei de escutar o mais recente CD de Caetano Veloso (Abraçaço), à venda a partir desta primeira semana do mês de natal em todas as livrarias de rede brasileiras (CD não pirateado virou artigo de luxo em livrarias). Devo continuar a escutá-lo pelo mês de dezembro afora, principalmente quando entro no carro rumo ao trabalho ou a algum compromisso, me apropriando do conteúdo, harmonias, melodias e letras. Conheço em detalhe a obra de Caetano inteira, desde o frescor de “Domingo”, gravado com Gal Costa em 1966, o primeiro e por incrível que pareça um dos discos que mais escuto, até a fase sintetizadora e eletrônica de “Velô”. Adoro “Transa”, um dos discos que mais escutei em minha vida, neste 2012 completando – parece que foi ontem – 40 anos. Tenho uma dívida de afeto para com Caetano Veloso, devo confessá-la: quando nasceu minha primeira filha, Analine, as canções de ninar que me vinham à memória na nossa rede nordestina, ouvindo rente o mar do Bessa,