Nelson Rodrigues
Jaldes Reis de Meneses Tenho certa vergonha e até pudor em escrever a respeito de temas ao redor dos quais se formou um consenso social de gosto, principalmente os de arte e literatura. Os consensos intelectuais são os mais alienados. Vivemos tempos de leitura – e também de escrita – automática, mais parece valer o “efeito manada” típico dos mercados financeiros, no qual o nosso gosto se adapta às correntes de opinião. Todo o mundo ama Guimarães Rosa e Clarice Lispector – nem precisa fazer a viagem de imersão da leitura –, autores imbatíveis na seleta de sentenças exemplares, que circulam aureolados por gravurazinhas de estilo duvidoso (e fundo musical meloso) nas redes sociais a pedir o toque automático no infame “curtir” (simpática expressão dos anos setenta recuperado pelo tradutor de português do facebook). O escrito se transforma, por um passe de mágica, na melhor das hipóteses, em um moralista, ou na pior, em um vendedor de drops de autoajuda. Tudo isso é muito bonitinho e ordi