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Mostrando postagens de janeiro, 2009

Guardar

Gosto muito desse belo poema de Antonio Cicero. Como houve na semana que passa, um diálogo sobre temas como a posse de Barack Obama, Samuel Huntignton e o conceito de "sociedade aberta", resolvi, meio à toa e a esmo, postar o poema, também título de seu primeiro livro de poesias. "Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la". (Jaldes Reis de Meneses). GUARDAR Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro Do que um pássaro sem vôos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guar

Sobre Samuel Huntington

No dia de domingo (25/01/09) troquei uma série de mensagens por e-mail com o poeta e filósofo Antonio Cicero, provocado pela leitura de um post meu comentando um artigo escrito por ele sobre a posse de Barack Obama. O artigo de Cícero foi publicado em sua coluna na Folha de S. Paulo (24/01/09). As polêmicas giraram em torno da vasta obra do cientista político americano Samuel Huntington (que ficou mais famoso do já era por ter lançado no mercado de idéias a tese do “choque de civilizações”, na década de 1990, antes mesmo do antentado às Torres Gêmeas), mas abrange um raio de interesses temáticos mais amplos sobre a compreensão do conceito de “sociedade aberta” e o legado político da tradição liberal. Não faria sentido que o conteúdo de interesse contido na correspondência ficasse restrito aos interlocutores, por isso tomei a deliberação de divulgar, após a aquiescência de Antonio Cicero, o resultado sem fim (parafraseando o título do livro de Cicero sobre estética, Finalidades sem fim,

Sobre Samuel Huntington (II)

Caro Jaldes, temos percepções muito diferentes do Huntington. Eu jamais o chamaria de “liberal”. Considero-o um reacionário. Eu já o via assim em 1999, quando escrevi a primeira parte de um texto sobre “O choque de civilizações” para o “Mais”. Este, não o publicou, de modo que não cheguei a escrever a segunda parte. Envio-lhe essa primeira em apêndice. Para Huntington, a democracia liberal é possível no mundo anglo-protestante desde que, como ocorria na primeira metade do século XX nos Estados Unidos, a religião protestante a enquadre. Mas, no fundo, como fica claro nos seus últimos artigos, em particular naquele citado por mim, ele considera a sociedade aberta uma espécie de excrescência da Civilização Ocidental, um câncer que ameaça não só as demais civilizações, mas a própria sociedade em que surgiu. De fato, a sociedade aberta não pertence ao “Ocidente” ou a qualquer cultura particular. Simplesmente uma sociedade é tanto mais aberta quanto mais irrestrito for o uso que faça da ra

Sobre Samuel Huntington (III)

Prezado Antonio Cícero, Nós dois concordamos com a alcunha de reacionário em Samuel Huntington. Ele discordaria dos dois, pois nas oportunidades que teve de se pronunciar sobre o assunto, se dizia liberal. Ainda mais, como você sabe, Huntington sequer era quadro do partido Republicano e colaborou em várias administrações democratas. Falei alguma coisa sobre a sociologia das religiões de Weber no e-mail anterior e esqueci do principal. O extraordinário sociólogo alemão tinha no pensamento uma idéia de trazer para a Alemanha de Bismarck os institutos do regime político liberal (os elementos do regime parlamentarismo inglês e da democracia norte-americana), mas, desde que, estivessem integrados funcionalmente a um projeto nacional de “grande Alemanha”. Neste sentido, era como se ele fosse liberal por um lado e reacionário por outro. Na constelação das ideologias, uma ambigüidade realmente existente, se levarmos em consideração, por exemplo, as peripécias do liberalismo brasileiro, ontem e

Barack Obama

Gostei bem do artigo de Antonio Cicero, uma figura que admiro, publicado na Folha de S. Paulo de hoje (sábado, 24/01/09), sobre o otimismo das pessoas com a posse de Barack Obama. Foi uma linda festa. Acho que artigo de Cicero tem um achado feliz que praticamente nenhum comentarista que li sobre a posse tinha notado (falei a amigos, por coincidência, antes de ler o artigo de Cicero): o fato de Obama ter mencionado os ateus como parte da comunidade americana, na prática rompendo, marcando diferenças, com a santa aliança teológico-político (fundamentalistas cristãos e neoconservadores) que governou os Estados Unidos nos últimos oito anos. Afirmar que o discurso de posse de Obama não fez história é totalmente vesgo: como se discursos fossem apenas palavras e retórica e não ambiência, momento, interação, clima, emoção. O discurso de Obama foi sintético, com duas características: o novo presidente, ao contrário do que se pensava, aliás, foi frontalmente contra a orientação ideológica govern

O Brasil e a Crise; o PT e o desenvolvimento

Publico a seguir recente entrevista concedida pelo sociólogo Francisco de Oliveira à Agência Carta Maior. Retornarei, o mais breve que puder, aos dois principais e polêmicos assuntos tratados na entrevista, do meu ponto de vista, 1) a concepção marxiana (e schumpeteriana) de que o capitalismo "não se destrói, mas se supera" (recentemente, o poeta Ferreira Gullar afirmou uma coisa parecida, em sua coluna dominical na Folha de S. Paulo, 11/01/09, "o capitalismo não foi inventado por ninguém, surgiu espontaneamente"), como igualmente, 2) as possibilidades de re-editar no Brasil de 2010 uma coligação política desenvolvimentista nucleada por Dilma Rousseff, os fundos de pensão, o PT e outros partidos. Sem priorizar, no momento em que posto, o debate sobre o conceito de capitalismo, que tem a idade do próprio modo de produção e das chamadas ciências sociais - dois parceiros de jornada histórica moderna -, adianto, por impaciência, algumas linhas. A própria expressão -

Coringas

Jaldes Reis de Meneses Boa noite estrelada de poesia Menina soneto de Camões, Musa extemporânea de Bandeira E de todos os excessos de Vinicius. Pretendo que as minhas orelhas Abriguem a uma estrela Enquanto você grava nos seios Os passos de uma bailarina. No pulso, encontrei outro passado Inscrito em vermelho e ouro Fluido como uma nota musical. Ao poeta desinteressa a serpentina Caída de seus antigos coringas. Pus a tinta na agulha e fechei a cortina.

Liberdade

Quem procura na liberdade outra coisa que não seja a própria liberdade é feito para servir. Alexis de Tocqueville. In: L'Ancien Régime et la Révolution, Oeuvres, I, III, 3, p. 217.