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Mostrando postagens de fevereiro, 2008

Ainda Cuba

Semana de tempo apertado, repleta das ocupações rotineiras de um professor (banca de seleção de mestrado, provas, preparação de aulas, família, etc.). Retornarei, logo que tiver a cabeça um pouco mais livre e solta à reflexão (quando a gente tá cansado os dedos ficam duros no teclado, os substantivos e adjetivos saem na marra), ao assunto da transição em Cuba, mas não resisto a um pequeno comentário: impressionam o volume de bobagens escritas, especialmente as que têm origem em duas confrarias: a dos inimigos do regime cubano, aqui, nos Estados Unidos e pelo mundo afora, um pessoal hidrófobo e zoológico. Acho que Fidel Castro deveria agradecer todos os dias – a quem?, rs – a existência desses cães hidrófobos que atiram de todos os lados mas são ruim de pontaria. Quero distância desse pessoal. Mas há o outro lado, também: os que defendem o regime cubano como se defendesse a uma religião. Deve-se abraçar qualquer causa com devoção, contudo uma boa cabeça analítica é fundamental. Não desg

Poesia e Letra de Música

Poesia ou letra de música, um debate que volta e meia retorna no Brasil. Recordo, recentemente, de um debate incluído na programação do Cineport (Festival de Cinema dos Países de Língua Portuguesa), no auditório da Reitoria, em João Pessoa. Lá estavam, como expositores, o poeta Bráulio Tavares (um artista que não conheço pessoalmente, mas que admiro como poeta, letrista, escritor, roteirista, enfim, um sujeito de excepcional versatilidade, um cara extraordinariamente talentoso, como poucos – o Bráulio atira em muitas direções e se dá bem em praticamente todas) e o professor (e poeta) Amador Ribeiro Neto, colega da UFPB. Tanto Bráulio como Amador disseram coisas interessantes. Pelo que recordo, Amador desencavou elementos da reunião ancestral música-poesia, citando Platão (aliás, o primeiro dissidente da poética grega, mesmo sendo um escritor imaginativo). A propósito: tenho algumas coisas a dizer sobre Platão, um estranho escritor, poético contra a poesia (antipoético), alguém que usa

A transição cubana

Jaldes Reis de Meneses. Professor do Programa de Pós-Graduação em História (UFPB). Fidel Castro vinha preparando o paulatino desembarque pessoal do poder desde o anúncio de sua doença, dois anos passados. Continuará influente no regime cubano até o dia de sua morte, cedo ou tarde, e não somente na condição de mito ou página da história – os lugares comuns que ouvimos no ocaso de qualquer líder. Fidel continuará um líder prático, responsável (senão o principal) pela direção política, portanto mais que um oráculo a quem se recorre pedindo conselhos nos momentos difíceis. Por isso, mais do que no ato formal de renúncia, deve-se falar e começar a prestar atenção no processo de transição cubana. Desde que Fidel Castro logrou derrubar o antigo regime corrupto de Fulgêncio Batista, o legado do novo regime vem sendo objeto de acirrada controvérsia política e ideológica, não somente entre esquerda e direita, mesmo no seio da própria esquerda nunca foi pacifico a adesão ao regime cubano. As polê

Contrastes, Ismael Silva

Escrevi no post anterior que poucas letras de música resistem fora do suporte melódico. Porém, de todas as tradições, de todos os ritmos, creio que o samba seja um verdadeiro fenômeno da poética. Muitas letras de Noel, Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola, Monsueto, são perfeitas, inclusive por que uma das características dos mais importantes sambistas brasileiros, pouco ressaltada, é o amor à língua portuguesa. Quase todos escreveram poesia no melhor figurino estilístico da língua. Enfim, segue o belo poema de Ismael Silva, muito conhecido, "Contrastes". Um senhor poema, grande Ismael! Contrastes Existe muita tristeza Na rua da alegria Existe muita desordem Na rua da harmonia Analisando essa estória Cada vez mais me embaraço Quanto mais longe do circo Mais eu encontro palhaço Cada vez mais me embaraço Analisando essa estória Existe muito fracasso Dcntro do largo da Glória Analisando essa estória Cada vez mais me embaraço Quanto mais longe do circo Mais eu encontro p

Coisas Nossas

Raramente publico material alheio neste blog. Nenhum dogma, tudo aleatório, decidido no calor da hora. Pelo que lembro, publiquei um poema de Bandeira, uma canção de Adriana Calcanhoto e Antonio Cicero, um poema de Jaiel de Assis. Na pequena análise de conjuntura (o post de ontem) cito uma irônica letra de Noel Rosa, "Coisas Nossas". Na maioria das vezes, letra de música perde dissociada da melodia. Novamente, o fenômeno é repetido. Mesmo assim, a crítica social de Noel tem a leveza de uma pena, a ironia, sei lá, de um Swift. Cabe a analogia, que me passou na cabeça agora? Acredito que sim, pois corre nas veias de Noel a crueza do satirista inglês. Ao mesmo tempo, há o Noel lírico, o amante de Cici, tão talentoso quanto o sátiro. A propósito: a sátira noelina, embora seja vista como um clássico destoa completamente do politicamente correto vigente, da discussão sobre as cotas sociais, da noção do samba como coisa exclusiva de negro ou de pessoas nascidas no morro (este é o pa

Lula

Deve parecer estranho a quem me conhece de anos e anos de ativismo político, e depois de análise política sistemática, só ver agora Lula freqüentando este blog. Vai aparecer mais, doravante, hehe. Vamos a uma rápida análise da pesquisa CNT/Sensus. Alguém pode explicar por que uma Federação de empresários faz pesquisas de opinião sobre o governo federal? Parafraseando Noel Rosa, coisas nossas. Em primeiro lugar, surpresa zero em saber que o governo Lula teve neste começo de fevereiro o melhor desempenho desde o primeiro ano de mandato, em 2003. Afora a personalidade Lula - que só cresceu presidente da República -, deve-se levar em consideração o desastre político da oposição ao governo: semana passada, por exemplo, na questão da CPI dos cartões corporativos, o PSDB (o DEM e seu tipo de oposição sistemática – mimetizando o antigo PT pela direita – é outra conversa, escreverei qualquer dia, rs, só não aconselho ninguém a se filiar, um partido de futuro incerto) assumiu um enredo que mais

Antonio Gramsci

Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade.

Ainda sobre Chico de Oliveira e Walter Benjamin

O meu post mais recente, sobre as relações entre Walter Benjamin e Chico de Oliveira, uma relação à primeira vista inusitada, aos que têm uma concepção convencional da questão do desenvolvimento – e são muitos –, provocou uma interessante resposta da professora Jovanka Baracuhy, do Departamento de Arquitetura da UFPB, na lista de discussão “cidade&cultura”, coordenada por Rossana Honorato (também professora do mesmo Departamento de Arquitetura e Ouvidora Municipal da Prefeitura de João Pessoa). Transcrevo, aqui no blog, o e-mail de Jovanka Baracuhy bem como a minha resposta, ambos na linguagem informal, típica de um debate em um grupo de dicussao na internet. Parece que principalmente eu, mas também Jovanka, escrevemos rápido, como se fosse um "fluxo de consciência", embora nada surrealista, uma ligação direta em velocidade entre o cérebro e os dedos das mãos. Acho que ficou até mais legal que se fosse um texto sisudo. O e-mail de Jovanka e minha resposta estão em letras

Chico de Oliveira

Quase ninguém discute mais idéias a fundo no Brasil, seja na mídia ou na academia. Acovardada, pouco se estuda na academia, por exemplo, o trajeto teórico de Chico de Oliveira, a partir dos resultados do polêmico texto “O ornitorrinco”, incluído no volume “Crítica da razão dualista/O ornitorrinco” (editora Boitempo, 2003). É instrutivo acompanhar o deslocamento de Chico do desenvolvimentismo à crítica do desenvolvimento. Neste deslocamento, vemos trançando a rica evolução de um intelectual que começa como técnico da Sudene, influenciado pelos ideais industrializantes da Cepal, um homem que era o braço direito (esquerdo?) de Celso Furtado. Ceifada pelo golpe militar de 64, Chico teve que abandonar o trabalho na Sudene, indo ser cidadão do mundo, fazendo em seguida a crítica ao ideário da Cepal e ao projeto desenvolvimentista da Sudene - as ilusões do pré-64 -, buscando aportes heterodoxos na economia política de Marx, nas formulações conceituais de desenvolvimento desigual e combinado h

Walter Benjamin e Chico de Oliveira

Ao analisar o filme "Tropa de Elite" (o artigo pode ser localizado aqui no blog), fiz menção, em tom de ironia, ao surgimento no Brasil de um "capitalismo de matriz colombiana", com ênfase nas políticas violentas de segurança, perfigurando, aliás, um monolito com as políticas sociais compensatórias (o bolsa-família é um sucesso brasileiro de exportação, começará em breve a ser aplicado no Egito e até em Nova Iorque). Pão e cacetete. Assim, garantimos o desenvolvimenot econômico, este bezerro de ouro das elites institucionais da esquerda brasileira. Faltou um elemento em minha análise, embora implícito: a permanência das práticas econômicas de acumulação, senão primitivas, pós-modernas. Quem tem uma página brilhante sobre as práticas de acumulação primitiva no Brasil de hoje, mas também do passsado, da época clássica do desenvolvimentismo capitalista (compreendido no período histórico 1930-1980), é o velho e sempre arguto Chico de Oliveira, um intelectual crítico des

Barack Obama (iii)

Para que a nota anterior do blog não cheire a qualquer simpatia ou adesão a Obama ou ao “obamismo” – em casos assim, sempre duas entidades diferentes, em forma e conteúdo, como Lula e “lulismo”. A crítica mais dura que se deve fazer à candidatura Obama é que ela tem aquele grau de indeterminação, generalidade e oportunismo fundamentais ao trânsito de um espectro a outro da política. Entre esquerda e direita, ou, no jargão americano, entre liberais e conservadores. Acaso vitorioso, Obama precisará recolher votos de uma ponta a outra, ao mesmo tempo, é claro, que vai isolando os extremos políticos. Por isso, ele andou dando declarações de admiração a Ronald Reagan, mesmo com as considerações de praxe de discordar do conteúdo das idéias, etc, etc. Política institucioanl hoje é isso: repleta de rituais, criação de mitos e reputações a partir do nada. Obama está piscando a eleitores republicanos eventualmente insatisfeitos com McCain. É importante desde já observar que Obama consegue mobili

Barack Obama (ii)

Obama vence em três previas e ultrapassa Hillary, manchete em todos os jornais e portais de internet. Uma eleição que parecia até a pouco tranqüila virou um emocionante enfrentamento. Estou reunindo material para escrever um artigo mais denso, nos próximos dias, sobre a eleição norte-americana, algo mais que somente uma postagem de blog. Escrevi há tempos sobre a Guerra do Iraque (a primeira e a segunda), de maneira que vou seguir, no caso da eleição norte-americana, o fio de uma meada analítica. Em resumo, trabalho com uma certeza e duas hipóteses. A certeza: fica complicado analisar as eleições nos EUA sem uma embocadura histórica. Penso, por exemplo, em eventos e processos do escopo da explosão populista do começo do século XX, os embates do new deal e a estratégica geopolítica de hegemonia mundial posta em prática pelo Departamento de Estado, já durante a Segunda Guerra. Sem saber direito o motivo inconsciente, quando o assunto é sociedade e política nos EUA, a primeira referência
Borgiano Jaldes Reis de Meneses Toda poesia é igual, diferentes são os poetas: Exilada na pedra, a poesia se perdeu Num labirinto pretensioso da memória, Este objeto do disfarce humano que vive através do encanto Involuntário das impurezas brancas, de uma macha de sorvete Na manga da camisa. Percorro as minhas mãos, em suas linhas o labirinto. A poesia, quando vale à pena, apenas os palhaços a podem compreender. Odes, baladas, elegias, e restou muito pouco, somente Beatriz, Mas quem é Beatriz? Quem é Laura? Quem é Dante? Quem é Petrarca? Para que serve um soneto, mas também qual a importância de um maçarico? A chama acesa de um maçarico na pedra Produzindo metáforas, sempre a mesma granítica mensagem: O tempo é a estrada, a vida é o sonho e a morte é o sono.

Desconstruindo Paulo Coelho

Simplesmente imperdível o artigo do escritor e diplomata Marcelo O. Dantas na revista Piauí desse mês de fevereiro. Em edições anteriores foram desmontados FHC e José Dirceu, inconfidentes, tagarelas, ciosos, coitados, de mostrar poder diante dos jornalistas que os acompanhou durante alguns dias em viagens internacionais. Pois bem, foram produzidos perfis reveladores, nos quais, a par da inteligência e capacidade de liderança de ambos, aparecem, dois malandrinhos, dois cínicos mascates do capitalismo brasileiro, FHC como "estratego" e depois "codontieri" da burguesia brasileira, Dirceu como despachante de luxo, cada um fiel ao estilo pessoal. Desta vez, o alvo é Paulo Coelho, um dos escritores mais lidos e vendidos no mundo. Marcelo O. Dantas não perde tempo com uma análise literária de Paulo Coelho, até porque a praia do Mago não é a literatura. O escritor-diplomata segue o rastro das influências ocultistas de Paulo Coelho, demonstrando, de maneira convincente, que

Barack Obama (i)

Conversa jogada fora nos corredores da UFPB: Barack Obama é carismático. Ah, tá. Mas, o que significa carisma, uma dádiva de Deus a determinados escolhidos seletos? Caso pensemos assim, carisma não é conceito, somente um cerrado mito, uma irracionalidade a mais, impedindo a liberdade de pensamento. Afastada a hipótese divina, indiscutivelmente o carisma existe na qualidade de uma relação social, por isso Weber estudou uma forma de dominação que chamou de carismática, nomeada por ele como uma das três formas de dominação como a legal-racional e a tradicional. Nas sociedades contemporâneas, a dominação tradicional falecendo aos poucos, por outro lado, o carisma é cada vez mais atuante, compondo um mix com a dominação burocrática legal-racional. Gramsci, comentando Weber, faz uma afirmação de carisma que considero brilhante: para o pensador italiano, o carisma se impõe em um vácuo, um vazio social, ou seja, quando há uma distância entre as forças políticas organizadas institucionalmente (

Noel, parceria público-privada

Os brasileiros em geral, mesmo os mais instruídos, entendem pouco da natureza e do conteúdo do capitalismo histórico tupininquim. Tudo se passa desapercebido às nossas barbas, tanto olhamos e sequer vemos. Um tipo especial de cegueira. Falou-se durante um tempo das parcerias público-privadas, logo no começo do governo Lula, como se fosse uma novidade, quando na realidade é algo muito antigo entre nós, um pais no qual a fusão de empresas telefônicas privadas é definido no gabinete presidencial como assunto de segurança nacional. Uma das sequências mais instrutivas do filme "Noel", sobre a vida do poeta da vila, que assisti ontem, encontra-se, mais que as escritas no roteiro (um esforço mediano a partir da matéria-prima de um enredo que poderia resultar em um grande filme, o universo do samba nos anos 30), nos letreiros de abertura: uma longa seqüência dos patrocínios, das lojas C&A, ao BNDES e a Petrobrás, e ainda fundos de pensão, etc, etc, tudo enformado pelo abraço do l

Bach e Vassourinhas

O que há de melhor em música, em todos os tempos, ao menos no ocidente? Não me furto em responder: os movimentos de Prelúdio e Fuga número 05 do Cravo bem temperado de Bach e Vassourinhas. Tenho dito.

Lanny Gordin

Me perguntam o melhor CD de 2007. Pergunta danada. Foi um ano "revival", digamos assim, do samba, da tropicália. Um salutar revival. Gostei do CD de Luiz Melodia, o Estação. Fernanda Takai reinterpretando Nara Leão, ficou muito bonito. Na Paraíba, Eleonora Falcone fez um CD caprichadíssimo. Na esfera íntima, pra mim o grande CD é de Lanny Gordin (Duos), embora seja irregular (não há comparação plausível entre "Enquanto seu lobo não vem" - obra prima - e a risível "Farol da Jamaica"). Coisas de Lanny... Lanny é um grande guitarrista, diferente de Jimi Hendrix ou Eric Clapton, na verdade se há uma ancestralidade em Lanny, ela vem de Wes Montgomery e, em diapasão parecido, da guitarra havaiana. Um músico de primeira.
Vinícius de Moraes, Espinosa e Nietzsche Adoro Vinícius, o que pode parecer uma estranha e despropositada devoção, pois talvez nenhum poeta brasileiro tenha encarnado tanto, em vida e obra – nele uma coisa só –, as ciladas do amor romântico, esta cria histórica da modernidade que há muitos parece um sentimento natural existente desde sempre. Mentira. O amor romântico, a vida de paixão na esfera privada – e laica – entre um sujeito individual e um objeto de prazer e dor, homem ou mulher, trata-se da mais renitente das sociabilidades modernas. Embora em crise no mundo contemporâneo, o amor romântico responde por muitas de nossas expectativas, sendo ainda a forma de gosto estético mais apreciada, seja na poesia, seja na música popular. Adoro o Vinícius romântico, mas não é o motivo de minha devoção. Gosto de Vinícius, em primeiro lugar, pela lição de despojamento – o poeta erudito e ex-diplomata que entrou de cabeça no mundo do samba e da música popular, o branco mais preto do Brasil, na
O catatau a seguir, desproporcional em um blog, constitui um artigo escrito em jargão acadêmico, publicado na revista Serviço Social & Sociedade (número 80, 2004), talvez um pouco massudo, e espero não-chato, sobre dois pensadores fundamentais, Gramsci e Tocqueville, o comunista italiano e o aristocrata francês. Dois finos estilistas. A ênfase reside no conceito de revolução passiva, de Gramsci, mas reponho o artigo aqui nem por isso, mas pela discussão do conceito de sociedade civil, tanto em Gramsci como em Tocqueville. Uma mera tertúlia conceitual? Creio que não, pois, ma formulação de seus conceitos, tanto Gramsci como Tocqueville tinham as vistas voltadas tanto para o processo europeu como para a sociedade norte-americana. Tocqueville, por exemplo, concebia o vigor da sociedade civil norte-americana como se fosse uma tradução, no tempo da modernidade, dos valores altruísmo da melhor aristocracia feudal européia. Mas, como? Aristocracia e moderna sociedade civil? Leiam o artigo
Drummoniano Jaldes Reis de Meneses Mano, comemore seu aniversário, 38. Entregue a alma, anjo barroco, Sem corpo aos prazeres da terra. Sente numa mesa, reúna os amigos, Tome uma cerveja, fume um cigarro. Por necessidade, vá ao banheiro, sorria, Espante a um chato, sorria novamente. Sorrir é preciso. Escute lorotas, piadas. O turbilhão de vozes na cervejaria. Notícias do passado, anjo barroco. Quem morreu, quem ainda vive? Todos estamos vivos, menos Itamar Assumpção (E Paulo Leminski). Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Mas logo chega a aurora. Mano, Mano, Mas logo chega a aurora...

Van Gogh

Não sou um artista - com é grosseiro até mesmo pensar isso de si mesmo (...) digo isso para falar como acho tolo falar de artistas talentosos ou sem talento.

Drummond

O último trovador morreu em 1914.
Jaguaribe carne não é vanguarda, mas muito melhor Jaldes Reis de Meneses. Professor do Programa de Pós-Graduação em História (UFPB). Após muitos anos – quase duas décadas, na verdade –, tive novamente a grata oportunidade de assistir a uma apresentação pública (Teatro Santa Rosa, quinta-feira, 31/01/08) do “Jaguaribe Carne”, o movimento cultural criado pelos irmãos Pedro Osmar e Paulo Ró na década de 70, responsável, entre outros feitos, além da longevidade, por uma das fatias cardinais de renovação de nossa música. Seria ato de puro charlatanismo falar em música no nordeste sem mencionar o Jaguaribe Carne. Na proposta da apresentação, tratava-se de armar no palco do teatro uma espécie “jam session”, criar certo tipo de ambiência informal, um clima, uma domesticidade, de maneira a que possibilitasse espaço para livre improvisação na interação dos músicos, a partir de bases rítmicas e melódicas anteriormente combinadas. Deu certo. A sessão de sexta-feira teve, para mim, alguns momentos